É um dos homens mais ricos de Portugal e, mesmo nos momentos de maior ansiedade ou incerteza quanto ao futuro, garante nunca ter perdido o sorriso ou o otimismo.
"Temos que saber usufruir da vida, que é curta, podemos ir de um momento para o outro… Por isso, para quê chatearmo-nos?", afirmou, durante esta entrevista à CARAS, concedida enquanto gozava o seu período de férias junto da família, em Porto Santo. Alguns minutos de conversa durante os quais explicou o que mudou na sua vida desde que, há dois anos, se submeteu a uma nova técnica da medicina na área da diabetes, aplicada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, no Brasil, à qual recorreu por sofrer de diabetes, colesterol, tensão alta e gota.
– Para estas fotografias, optou por usar uma camisa branca, quando é conhecido o seu hábito de se vestir de negro…
Joe Berardo – Usei a camisa branca porque estou de férias. Mas agora vou voltar ao preto, porque, infelizmente, a cultura vai atravessar mais dificuldades. Portanto, tenho de continuar a mostrar o meu luto pelo pouco que se faz pela preservação da cultura.
– O que gosta de fazer quando está de férias?
– Gosto de mar, embora já não tenha muita pachorra para estar a apanhar sol o dia todo. Gosto de ver filmes, gosto de ver o que se passa pelo mundo e de estar bem informado, mas quando estou de férias é, basicamente, para estar junto da minha família.
– Então passam todos férias em Porto Santo?
– A minha família reúne-se em Porto Santo todos os anos. É o lugar ideal, primeiro para os meus filhos, agora para os meus netos, porque as águas são muito brandas, e eles gostam muito, andam de fato de banho o tempo todo.
– Aparece nas fotos a segurar um taco de golfe. Joga golfe?
– [risos] Não, foi só para a fotografia! Não tenho o vício do golfe. Tenho o vício da cultura. Não se pode ter os vícios todos!
– Segundo li em entrevistas anteriores, não é grande adepto do exercício físico…
– Gosto muito de andar a pé. Ando, pelo menos, uma hora por dia, embora tenha perdido um bocado este ritmo por causa da operação, mas já esteja a retomar.
–
Foi operado há dois anos. Na altura perdeu 18 quilos. Entretanto, parece ter perdido mais alguns…
– Exatamente. Perdi 20 quilos e tenho mantido o peso desde então. Foi fantástico. Tive que adotar uma vida nova e mudar a alimentação – como muito menos, mas o suficiente – e sinto-me muito bem, porque tinha diabetes e colesterol, e desapareceu tudo. Foi a adaptação a uma nova vida, mas gostei muito.
– Aconselharia essa operação aos seus amigos?
– Muitos já lá foram. A operação não é difícil, dura apenas três horas, mas têm que se mentalizar que têm de comer e beber menos.
–
Foi nessa altura que se apercebeu de que não era imortal, que teve uma maior noção do limite da vida?
– Quando tinha 24 anos, estava na África do Sul, e disse para mim próprio: ‘Se eu morrer hoje, morrerei como o ser humano mais satisfeito e feliz do mundo inteiro.’ Ainda ando aqui, com 67 anos! Portanto, eu tenho muito a noção de que quando se nasce, nasce-se com vida, quando se vai, nem a vida se leva.
– O que é que tinha acontecido para dizer isso aos 24 anos?
– Comecei a trabalhar muito cedo, fui para África do Sul com 18 anos, foi muito duro. Depois, a vida foi melhorando, fui para Joanesburgo, onde passava os meus dias a trabalhar e a dançar em clubes noturnos, tinha carro… Portanto, uma pessoa que vinha de famílias humildes, que passou a ter muito dinheiro, bens materiais, miúdas que o adoravam, o que é que poderia querer mais? Hoje sei que as coisas materiais se podem tornar um problema. E se tenho muitas coisas ligadas às artes, foi pela preservação da cultura, que é um dever do ser humano.
– Tem noção do número de objetos de arte que possui?
– Estou a preparar uma exposição na Aliança Underground Museum, da maior coleção de estanhos do mundo. Pertencia à família Leitão, que colecionou estes objetos durante cerca de 50 anos, e eu, há 19 anos, comprei-a. Tinha tudo empacotado e andava há muito tempo a pensar como é que ia expor aquilo, que é um símbolo muito português. Acabámos por encontrar
uma solução e iremos inaugurar a exposição em breve. Só aí estão quase 700 peças em estanho.
– É disléxico. A dislexia tem sido uma barreira ou, pelo contrário, tem sabido fazer dela um atributo?
– Na minha maneira de ver, e na de
Bill Gates ou de diversos presidentes da América, a dislexia faz-nos ver as coisas de uma perspetiva diferente. Eu não considero a dislexia uma deficiência, mas sim uma qualidade da pessoa, que vê aquilo que os outros não veem. Por exemplo, quando vejo uma mulher, há pessoas que olham e comentam o facto de ser magrinha ou gordinha demais. Eu comento sempre a parte positiva, seja a cor dos olhos ou o corte de cabelo, ainda que, por exemplo, tenha as unhas mal pintadas! Devemos salientar as coisas boas da vida, e o português é muito negativo. Os jornais só falam de más notícias! Ainda bem que existe a CARAS, que, pelo menos, nos dá notícias de coisas bonitas e alegres. Já chega de desgraças.
– Deixou de constar do
Top 10 das personalidades mais ricas de Portugal. É uma notícia que o entristece ou desvaloriza?
– Para mim, isso não significa nada, não me dá alegria nem tristeza. Porque é que eu hei de estar triste se saí do
Top 10? Eu nem mereço estar nesses lugares!