Elemento destacado da elite de Hollywood, Susan Sarandon mostra a mesma paixão ao vestir a pele de personagens complexas como ao cruzar o oceano para ajudar uma comunidade atingida por desastres naturais. A beleza é intemporal, o charme é avassalador e a voz rouca embala os sonhos de homens de todas as idades, ainda que prefira usar a palavra para lutar contra as injustiças sociais. Aos 64 anos, a atriz é uma mulher única e chegou ao Castelo de CARAS, nos arredores de Nova Iorque, revelando uma humildade surpreendente: “Que sítio tão bonito! Tenho uma casa de campo na região, mas nunca imaginei encontrar um castelo tão perto de Manhattan. Estou honrada e agradecida pelo convite de CARAS.”
Estrela de filmes que fazem parte da história do cinema como Thelma e Louise (1991) e A Última Caminhada (1995), que lhe deu o Óscar de Melhor Atriz, a norte-americana já interpretou todo o tipo de personagens, mas confessa-se fã de vilãs. Na vida real, divide-se entre os papéis de mulher, atriz, ativista e mãe de Eva, de 26 anos (da sua união com o realizador Franco Amurri), de Jack, de 22, e Miles, de 19, estes do casamento com o ator Tim Robbins, que terminou em 2009.
– Sabe que é um exemplo de uma mulher poderosa?
Susan Sarandon – Obrigada. Acho que temos de abraçar a nossa maneira de ser de forma diferente da dos homens, não é preciso cometer os mesmos erros para chegar ao poder. Como mães, precisamos de criar os nossos filhos, meninos e meninas, da mesma forma. Feminismo é uma palavra às vezes usada com sentido negativo. O correto é ter os homens como aliados! Se tratarmos o nosso filho de maneira diferente ou se o nosso marido nos desautoriza frente ao nosso filho, ele um dia fará o mesmo quando for adulto.
– Também costuma receber elogios por ser ativista. Quando surgiu essa paixão?
– Cresci numa época em que os problemas eram latentes e as notícias nas revistas, TV e jornais não eram tão controladas pelos lobbies. Havia imagens impressionantes do Vietname, eu estava na faculdade em Washington quando Martin Luther King foi
assassinado… O mundo vivia uma revolução e nós acreditávamos que podíamos mudar as coisas. Era a época da libertação feminina, do ‘sexo, drogas & rock’n’roll’. A injustiça sempre me incomodou. Sou a mais velha de nove irmãos, não era rebelde, não tive namorado até entrar na faculdade. Casei-me com o primeiro homem com quem tive sexo. Tornei-me ativista antes de ficar famosa. Com espaço nos meios de comunicação, fez ainda mais sentido usar a minha voz. Só porque nos tornamos celebridades não quer dizer que devamos parar de exercer o nosso papel de cidadãs. Ensinemos uma criança a ler, reciclemos, atuemos na nossa comunidade!
– Vê-se como ícone de beleza?
– Quando eu era nova, Barbarella [Jane Fonda] era a imagem que vendia, mas eu via mulheres como Silvana Mangano, que não tinha uma beleza clássica popular nos EUA, e pensava: “Que sexy que ela é!”. Eram mulheres que pareciam dizer ‘sim’ à vida. São as imperfeições que nos fazem ser quem somos, que nos dão personalidade. Eu nunca me vi como uma beldade, mas sim como uma atriz. Talvez por isso a passagem dos anos tenha sido mais fácil. Ficamos mais velhas e ‘encontramos’ a nossa voz, ficamos menos confusas, mais tranquilas e fortes ao mesmo tempo. Isso é atraente para muita gente.
– Os anos parecem não passar por si…
– Bette Davis dizia que “envelhecer não é para os fracos”. É difícil, sim, especialmente quando nos vemos num ecrã gigante! Temos de nos focar no nosso interior, esta é a beleza que vai durar verdadeiramente. O corpo, aos poucos, vai trair-nos se não aceitarmos as mudanças. Fico doida ao ouvir jovens de 20, 30 anos a queixarem-se das coxas, dos braços!
– Qual é o segredo para manter o “glamour” na passadeira vermelha?
– Não sou assim tão glamorosa! Primeiro, procuro looks para quem tem peito, seja Donna Karan, Diane von Furstenberg ou Lila Rose. Gosto de coisas que sejam alternativas e surpreendentes, mas não muito. Não mudo o guarda-roupa a cada estação, tenho peças que adoro e conservo durante anos.
– Já guardou o guarda-roupa de algum filme seu?
– Às vezes acontece o contrário: uso peças minhas. Mas fiz um filme com o Richard Gere, Arbitrage, ainda inédito. Éramos ‘muito ricos’ e usei algumas peças de caxemira italiana que quis guardar.
– No cinema, é melhor ser heroína ou vilã?
– Vilã, sempre! Quando podemos dizer e fazer coisas que jamais faríamos na vida real é mais divertido. O Capitão Gancho é mais interessante que o Peter Pan! [risos]
– O que procura nos guiões?
– Gosto do novo. Tem de me emocionar, mesmo que não seja através da minha personagem. Ajuda se o elenco traz grandes atores; se o realizador é uma pessoa que admiramos. Se somos pagos, melhor ainda! Mas é raro conseguir tudo ao mesmo tempo… [risos]
– É verdade que guarda o seu Óscar na casa de banho de casa?
– Sim, com ‘amigos’ como o prémio SAG. Os meus filhos dizem que é a “casa de banho dos famosos”.
– A sua filha casa-se este mês com o ex-jogador de futebol Kyle Martino. Está pronta para ser sogra e, quem, sabe, avó?
– Sim. Fui mãe tarde e disse-lhe para esperar pelo menos um ano antes de começar… Só quando temos filhos é que compreendemos o tempo que precisamos de lhes dedicar.
Susan Sarandon: “Com a idade ‘encontramos’ a nossa voz”
Aos 64 anos, a atriz mantém a beleza intemporal e o charme irresistível, como se viu nesta visita ao Castelo da CARAS. Persistente na luta contra as injustiças sociais, continua a dedicar-se de corpo e alma à representação.