
Mike Sergeant
Aos 15 anos, para contribuir para o orçamento familiar, Purificación Garcia foi trabalhar para uma empresa têxtil. Aí, apaixonou-se pelos tecidos e materiais e percebeu que o seu caminho teria de passar, obrigatoriamente, pela moda. Décadas depois, é uma das estilistas mais conceituadas a nível internacional e, desde 2003, dá também o nome a um concurso bienal de fotografia aberto a espanhóis e portugueses. Este realizou-se pela segunda vez em Portugal recentemente, trazendo a designer espanhola a Lisboa. Ocasião em que conversou com a CARAS sobre trabalho, mas também sobre a sua felicidade familiar ao lado de Alberto Caballe, com quem está casada há 37 anos, e dos filhos de ambos, Ximena, de 30 anos, Soledad, de 28, e Marc, de 22.
– Sempre quis trabalhar em moda?
Purificación Garcia – Não. Estudei Medicina, mas houve um momento em que me encantei pela moda e no segundo ano desisti do curso. Provenho de uma família muito tradicional, que sempre quis que eu tivesse uma carreira, e naquele momento a moda não era bem vista. Agora sim, mas há 35 anos os meus pais queriam era que fosse advogada, economista, arquiteta, tudo menos fazer parte do mundo da moda. Foi difícil, mas valeu a pena. Tenho três filhos, a minha filha mais velha trabalha com números, a do meio é meio boémia e está a seguir o meu caminho, o mais novo ainda não se decidiu, e é a ele que dou sempre o meu exemplo… estudei Medicina e nem sequer sabia o que queria. Por isso peço-lhe sempre que acabe os estudos e depois, se se decidir por outra coisa, tudo bem. O importante é que conheçam o mundo e viajem, o que sempre fizeram desde pequenos. Creio que as vivências que as viagens trazem e o contacto com outros povos são muito mais importantes do que uma carreira. Sou uma mãe muito livre.
– Alguma vez imaginou que poderia chegar tão longe na vida?
– Quando comecei, com 15 anos, nunca pensei chegar onde cheguei, até porque sou uma autodidata. Tive muitos obstáculos no caminho, mas também muitas alegrias que me fizeram continuar.
– Quando foi mãe estava numa fase de ascensão da sua carreira. Deve ter sido difícil…
– Muito difícil, pois não existiam as ajudas tecnológicas que há agora e eu tinha de estar realmente presente em todos os projetos e locais. Mas com força tudo se faz. Pensa-se que na moda só existem plumas e show, mas cada vez que te levantas tens de agir em conformidade contigo mesma e ter muita força.
– Sente que com a dedicação ao seu trabalho perdeu alguma coisa do crescimento dos seus filhos?
– Muitíssimo! Creio que compensou, pois enquanto mulher e profissional sinto-me muito realizada, mas faltaram-me algumas vivências deles que gostaria de ter presenciado… Poderei vir a tê-las um dia com os netos… [risos]
– Está casada há 37 anos. O seu marido também deve ter a sua quota parte de responsabilidade no sucesso familiar…
– Claro que sim. Tenho muita sorte, pois tenho uma família muito compreensiva, que sempre apoiou e incentivou o meu trabalho.
– Já referiu que enquanto mãe apela à liberdade. Isso quer dizer que é permissiva com os seus filhos?
– Sou bastante exigente, perseverante e até dura. Espero muito dos meus filhos. E acho que até uma certa idade há que encaminhá-los e dizer-lhes o que está bem e mal em todos os aspetos da vida. Mas também confesso que a minha filha mais velha foi educada com mais rigor do que o mais novo. Julgo que isso se passa em todas as famílias [risos].
– Sente que fez um bom trabalho enquanto mãe?
– Sim, sou muito orgulhosa dos meus filhos, pois são pessoas muito honestas, que sabem valorizar o dinheiro.
– A sua filha Soledad seguiu os seus passos e até já criou uma coleção, mas não trabalham juntas…
– [risos] Isso seria impossível, ela é muito mais irreverente!
– Mas pede-lhe conselhos…
– Sim, de cores, bordados… Apesar do que já estudou, falta-lhe a prática nos tecidos, nas possibilidades de mercado.
– Naturalmente, está contente com o percurso da Soledad…
– Claro que sim. Vê-la seguir o meu caminho é a minha continuidade. Ela trabalhou com o tenor José Carreras e nunca pensei que seguisse moda. Foi realmente o destino e, em dois anos, já abriu duas lojas, criou a marca Sayan e creio que tem bastante projeção.
– Já escreveu um livro e tem um concurso de fotografia com o seu nome. O que é que ainda lhe falta fazer?
– Tudo! [risos] Trabalhamos muito com ONG e trabalhar com crianças é algo de que gosto muito. Gostava de estudar música, ter uma florista… tanta coisa! Mas na vida temos de fazer escolhas [risos].

Mike Sergeant

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