Dias antes de estrear o seu
programa, Dr. White – exibido na SIC aos sábados à noite –, foi
divulgado na imprensa que os bens da clínica que Miguel Stanley tinha na
Av. D. Carlos I, em Santos, estavam penhorados e seriam levados a leilão devido
ao incumprimento de pagamentos às finanças. “É muito fácil criticar e
apontar o dedo, e vivemos num país em que muitas pessoas tiram prazer da
desgraça alheia”, critica o médico dentista, defendendo-se:
“Tenho orgulho no trabalho que temos desenvolvido e estou confiante que, na
instância própria, vamos conquistar aquilo que merecemos, que é estar em paz.” Aos
38 anos, o autor de alguns sorrisos famosos – como o de Paulo Portas ou
de Cristiano Ronaldo – marcou encontro com a CARAS para nos falar do
programa que idealizou, e no qual se propõe a mudar a vida de 56 concorrentes,
mas também da sua vida pessoal, que partilha com a galerista norte-americana Alana
Haddi, dez anos mais nova, com quem planeia formar família.
– Qual é a primeira coisa em que repara quando conhece alguém?
Miguel Stanley – Observo a linguagem corporal e tento perceber se a
pessoa está confortável consigo própria, através da maneira como se apresenta e
me aperta as mãos, o sorriso, o brilho nos olhos… Ou seja, se está viva ou apagada.
Gosto de pessoas vivas.
– Tendo em conta a sua profissão, como consegue evitar olhar para os dentes
dos outros?
– Nos primeiros anos de profissão olhava, mas, com o passar do tempo, fui
treinando para não olhar quando estou fora da clínica, e comecei a dar mais
atenção à pessoa em si. Talvez isso que me tenha ajudado a desenvolver outras
áreas que hoje em dia dirijo na clínica: cirurgia plástica, nutrição,
dermatologia, psicologia clínica.
– Deixou, então, de ser médico para passar a ser gestor?
– Não. Estou em prática privada há 13 anos, tenho um leque muito grande de
clientes pelos quais tenho o maior respeito. Passo grande parte do meu dia como
médico-dentista mas, com organização e um trabalho de equipa inacreditável,
consigo gerir as outras áreas também, portanto é uma combinação das duas.
– Consegue delegar tarefas?
– Nunca tirei um curso de gestão, portanto, é tudo à base de experimentação:
se não resultar, volto atrás. Não tenho é medo de arriscar. Prefiro ‘bater com
a cabeça’ e aprender do que não tentar. Tive de aprender a delegar.
– A clínica White está fechada?
– Sim, fechou há um mês. Entretanto, um grupo de investidores internacionais,
que acreditou nas minhas capacidades de crescimento como médico e na minha
equipa, tornou possível uma clínica nova em Miraflores, na qual se encontram
todos os elementos da equipa que está no programa Dr. White. A clínica
pertence a um novo grupo e estou muito contente por já não ser empresário em
Portugal. Já não sou o dono da clínica, sou consultor, e posso voltar a fazer
aquilo que faço melhor, que é pôr as pessoas a sorrir. Tenho mais tempo para
ser médico dentista, para gerir a minha equipa e para estar feliz, que é
importante também.
– Deve ter-lhe custado muito fechar a porta da sua clínica…
– Foi a maior lição da minha vida, foi uma lição de humildade. Sou uma
pessoa muito pragmática. Sou cirurgião, portanto, quando há um problema,
excisamos o problema, suturamo-lo, e a pessoa fica curada. Na altura, estava
mais preocupado com as cerca de 40 pessoas a quem dou trabalho do que comigo. Eu
não me podia ir abaixo. Foi um negócio muito arrojado, mas tive de conduzir o
percurso da melhor forma possível. Se tive pena? Trabalhei muito, não tive
pena, aprendi muito.
– Não acha arriscado expor-se com a estreia de um programa com a sua
assinatura na mesma altura em que é divulgada uma dívida avultada relacionada
com a clínica?
– Primeiro, a dívida pode parecer grande para muita gente, mas é proporcional
ao meu negócio. Sou conhecido por não falar publicamente sobre a minha vida
pessoal, como tal, achei importante não dar muita atenção a essas notícias.
Acho que, por ser conhecido, houve um exagero da parte dos media em
relação a este caso, cuja origem parte de grupos que não têm interesse em que
eu ou a minha clínica tenhamos sucesso. Estou perfeitamente confiante e
tranquilo. Não há nada que não esteja bem documentado e que não esteja acima da
média no que diz respeito à conduta. O que quero deixar bem claro é que fui
alvo de uma série de circunstâncias que dificultaram muito o processo da White.
Não foi por má gestão do negócio, não foi nunca pela qualidade dos nossos atos
médicos, antes pelo contrário. Mas volto a reiterar: tenho orgulho no trabalho
que temos desenvolvido e estou confiante de que, na instância própria, vamos
conquistar aquilo que merecemos, que é estarmos em paz.
– Pessoalmente também procura o culto do corpo e a busca da perfeição como
algumas das pessoas que o procuram?
– Tenho fases. Não chamaria culto… É público que, durante muitos anos,
trabalhei como manequim para pagar as propinas da faculdade. Venho de uma
família em que cada um de nós precisa de trabalhar para pagar as suas coisas.
Nunca ninguém me deu nada e ainda bem que assim foi, tenciono educar os meus
filhos da mesma forma… Mas desde 1998 que deixei de me preocupar com a minha
imagem. Obviamente que, por aparecer na televisão e estar todos os dias com os
meus pacientes, tenho de ter uma aparência minimamente cuidada. Gosto de
comprar roupa bonita, embora acabe por vestir sempre a mesma coisa, e em
relação ao corpo, cuido da minha dieta com a ajuda da Dra. Iara Rodrigues
e o personal trainer Pedro Batista, mas, devido às minhas
obrigações internacionais, que incluem palestras e congressos, não tenho muito
tempo disponível. No entanto, uma das minhas determinações para 2012 é voltar
ao ginásio, não pelo culto do corpo, mas para estar saudável e sentir-me bem.
– Quem é que o faz sorrir neste momento? Já apresentou algumas namoradas…
– Tenho uma namorada norte-americana. É uma grande amiga, alguém que me põe
bom disposto, principalmente porque partilhamos o sentido de humor.
– Vivem juntos?
– Ela vive comigo quando está em Portugal, mas eu também passo muito tempo em
Los Angeles. É dona de uma galeria de arte com bastante sucesso em Beverly
Hills, e procura arte em todo o mundo para expor na galeria. Eu também tenho
uma paixão por arte.
– Em novembro de 2005, em entrevista à CARAS, dizia que era muito novo para
ser pai. E agora?
– Já lá vão muitos anos [risos]. Acho que já estou pronto… Sinto que a
aventura que foi a construção do projeto White, a idealização, conceção,
construção e execução do programa Dr. White foram desafios tão grandes
que a paternidade deve ser fácil! Estou a brincar. Sim, estou pronto e acho que
seria uma grande alegria tanto para os meus pais como para os pais dela.
Miguel Stanley: “Estou muito contente por já não ser empresário em Portugal”
O médico dentista, de 38 anos, admite que fechar a mega clínica que tinha em Santos foi uma lição de humildade, e diz que agora que é apenas consultor numa nova clínica tem mais tempo para fazer aquilo de que gosta: pôr as pessoas a sorrir.