
Paco Bandeira
Alfredo Rocha
Antes da última sessão de julgamento, que decorreu no dia 29 de maio, o cantor, que é acusado de violência doméstica contra a ex-mulher, Maria Roseta, e a filha de ambos, Constança, de 13 anos, pediu para prestar as seguintes declarações.
“Meritíssimas juízas,
Permitam-me a ousadia de vos roubar alguns escassos minutos, mas como vou ser sujeito a uma intervenção cirúrgica delicada e precavendo o pior, gostaria de deixar registado neste douto tribunal algumas considerações sobre este processo que é mau demais para ser verdade.
Eu não sou um homem perfeito e muito menos um marido perfeito. Ao longo dos anos de relacionamento com a Roseta, foram vários os diferendos, mas qual é o casal que não os tem? Porém, sempre tentei resolver as coisas de forma natural. Longe de mim pensar, que umas simples discussões familiares chegariam um dia à barra dos tribunais. Mas a verdade é que chegaram. E contra factos não há argumentos. Uma coisa posso garantir ao douto tribunal: nunca tentei exercer qualquer tipo de coacção física ou psicológica sobre a Roseta.
A coacção implica ameaças, implica privar a outra pessoa dos seus direitos, liberdade e garantias. Se houve zangas? Houve. Mas nunca a Roseta foi forçada a permanecer comigo. Aliás, deixou a casa quando desejou e eu não a persegui por isso. Nem sequer lhe pedi para regressar. Tentei que as coisas seguissem os seus trâmites legais. Só me apercebi do quão grave as coisas poderiam ser, quando fui confrontado com a ameaça, por parte da Roseta, através dos seus representantes legais, de que ela me iria acusar de violência doméstica caso não lhe desse uma casa e uma verba em dinheiro.
Ora eu não podia pactuar com uma coisa dessas porque, por não ter posses e desde logo, seria estar assumir algo que nunca fiz. Eu nunca maltratei a Roseta e a prova disso é que os autos mostram que nunca, nem num cabelo lhe toquei. Preferi que o caso fosse decidido na Justiça. Porque eu acredito na verdade e na capacidade dos Tribunais em apurá-la.
Confesso que estou arrependido. Não por ter perdido a fé na Justiça, pelo contrário, mas porque este processo inacreditável já fez uma vítima: a minha filha. A minha Constança, que está neste momento dividida entre os seus dois amores e que, seja qual for a decisão deste douto tribunal, irá acarretar para sempre a mágoa de ter estado num dos lados da contenda. Se a mãe ganhar, ficará com o peso na consciência de ter ajudado a condenar o pai. Se o pai for absolvido, ficará com o peso de não ter ajudado a mãe.
A Constança é a única vítima de tudo isto. Não sou eu nem a mãe. É ela. Porque a Constança é que foi sujeita a algo a que nenhuma criança deveria ser: vir a um tribunal prestar declarações sobre os seus progenitores. A violência começa em casa, porque não tenho dúvidas de que a minha filha foi e está a ser vítima de violentíssima alienação parental por parte da mãe, que a tem manipulado em todo o processo e a tem virado contra mi e contra a família do meu lado. Esta alienação ficou aqui bem patente, quando lhe perguntaram sobre o episódio dos ciúmes com o padre e ela admitiu ter sabido porque lhe contaram.
Custou-me ver a minha filha Constança ser manipulada para se sentir culpada, pela fuga de casa, pois foi isso que lhe incutiram na mente. Não hesitaram em fazer encenações de terror, como aquela que foi aqui orgulhosamente confessada pela testemunha Isabel Patrício, com a própria PSP a vigiar uma casa onde eu iria praticar actos violentos, tenebrosos. Fizeram com que a minha filha se sentisse responsável pela segurança da própria mãe. Isto é simplesmente atroz e próprio de mentes doentias. A imagem que queriam transmitir à menina era a de que eu seria um monstro.
Isto somado ao subliminar espectáculo das facas e dos móveis encostados à porta do quarto, de que nunca tive conhecimento, obviamente com a bem encenada dramatização da mãe, deixaria em qualquer criança, por mais inteligente que seja, uma imagem monstruosa de qualquer pai. Mas mesmo assim, a minha filha ama-me e chora quando ouve dizer à tia e à mãe que o pai vai para a prisão.
E eu pergunto, em todos estes anos de que verdadeira maldade material sou acusado? A Verdade, é que desde a primeira hora que ecoa nesta sala a ressonância das mentiras de algumas testemunhas, enxertadas no processo pela irmã da Roseta. Não percebo os motivos dessa senhora estar mais interessada neste caso do que a própria alegada vítima. Testemunhas que obviamente se silenciaram, já no decurso deste julgamento, se eu pagasse o que me era exigido.
E quanto à minha ex-companheira ter sido sempre alegadamente, por mim, proibida de conviver com os seus amigos e limitada na sua autoridade! Todas as pessoas amigas que dela conheci, frequentaram livremente as minhas propriedades e algumas lá pernoitaram. Acrescento ainda, todas elas, assim como os pais e a restante família da minha ex-companheira sempre foram pessoas muito bem-vindas às minhas casas e tratadas com verdadeira familiaridade, respeito e alegria. E, a sobreviva mãe, avó da minha filha, continua a ter comigo e vice-versa a melhor relação, que agora se processa unicamente através da Constança.
A única violência psicológica que houve entre nós, foi exercida por parte da Roseta. O meu único compromisso foi assumir a paternidade plena da Constança. E é pela Constança que eu lamento tudo isto. Estou de consciência tranquila, porque sei que não fiz nada de mal, mas eu jamais irei esquecer o sofrimento a que sujeitaram a minha menina, vítima de uma alienação parental que eu julgava não ser possível em pessoas que se dizem de bem.”