Maria Inês Almeida, de 33 anos, sempre foi apaixonada pela escrita e desde que foi mãe, há quatro anos – de um rapaz, José Henrique, fruto da sua relação com o ator Pedro Górgia –, o seu fascínio pelo mundo infantil adensou-se e aventurou-se a escrever livros infantojuvenis. Um deles, Quando eu for… Grande, ilustrado por Sebastião Peixoto, foi nomeado um dos três melhores livros de literatura infantojuvenil de 2011 para o respetivo prémio da Sociedade Portuguesa de Autores, e figura na lista de “100 livros para o futuro” apresentada recentemente pela delegação oficial de Portugal na Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha.
– Foi graças ao José Henrique que se aventurou na escrita para crianças…
Maria Inês Almeida – Acho que já tinha esse gosto, tanto mais que antes do meu filho nascer comecei a trabalhar num projeto editorial em que convidei vários políticos a escreverem uma história para crianças. Mas é um facto que o nascimento do meu filho potenciou o meu interesse pela literatura infantil. Ter um filho como o José é ter uma provocação diária de manhã à noite em casa, e que faz pensar em todas as crianças e nas pulsões dos pais. Levou-me a interrogar, a fazer livros como o Quando eu for… Grande, que foi uma ideia que o José me deu quando um dia perguntou: “Quando eu for grande vou saber onde está a porta da praia?” Posteriormente, foi a pergunta repetida vezes sem conta: “Quando eu for grande posso comer pastilhas?” O José é uma fonte inesgotável de inspiração.
– A maternidade ajudou-a a perceber melhor as crianças…
– A maternidade dá-nos outra perspetiva sobre o universo infantil. Já não olhamos para esse universo à distância, mas é como se, de alguma forma, fizéssemos parte dele. Percebemos melhor as crianças e, sobretudo, dominamos de forma mais aprofundada os meios para comunicar com elas. As crianças possuem aquela faceta fascinante e encantadora que consiste em nos colocarem numa posição um bocadinho à parte, tanto dentro como fora da realidade, em que temos de ter os pés assentes na terra e, ao mesmo tempo, voar com elas.
– Influencia o seu filho nas suas escolhas de futuro?
– Quero respeitar as suas opções, mas disponho-me a ajudá-lo nessas escolhas se por acaso ele me pedir essa ajuda. Quero puxar por tudo o que há de melhor no meu filho, mas o ‘livro dele’ está em aberto. Nem tem que ser só uma coisa. Educar não é domesticar, impingir ou formatar. O que desejo para o José é que ele, perante a vida, saiba fazer cada vez melhores perguntas. São as perguntas que nos fazem andar, e as perguntas de fundo vão fecundar a nossa imaginação e a nossa relação com os outros.
– Este trajeto na escrita para crianças já lhe trouxe algum reconhecimento. Sente uma responsabilidade acrescida?
– Sinto que é sobretudo um estímulo para prosseguir pela via por que enveredei, procurando fazer cada vez melhor. E só sei trabalhar com responsabilidade.
– Trabalhou vários anos como jornalista antes de se dedicar aos livros. Não tem saudades de trabalhar no terreno?
– Gosto de explorar novos territórios, e procuro não olhar para o passado com nostalgia. O que não quer dizer que no futuro não venham a proporcionar-se circunstâncias que me levem outra vez a trabalhar no terreno. Acho que temos de viver o quotidiano e não desistir do ideal, dos sonhos. Mas o meu plano de vida permanece o mesmo: ajudar o meu filho a crescer e crescer com ele, tentando que ele guarde da sua infância a melhor memória possível.
– Dessa forma, consegue ter mais tempo para lhe dedicar?
– O tempo que dedico ao José é sagrado, e faço uma divisão muito clara entre o meu período diário de trabalho e aquele em que estou com ele, que procuro que seja a cem por cento.
– Na fase de criação tem de estar isolada, ou todos os momentos passados entre mãe e filho servem de inspiração?
– O meu filho tem sido a minha principal fonte de inspiração, mas para transformar a inspiração em escrita preciso de estar sozinha.
– Acredita que esta sua opção de escrever para crianças lhe deu maior proximidade com o José?
– Acho que a teria de qualquer modo. Mas essa minha atividade leva-me a estar ainda mais atenta a tudo o que ele diz e faz.
– Apesar de ter uma relação próxima e de amizade com o pai do José, não deixa de ser mãe solteira. Tem sido difícil?
– Não sou mãe solteira, sou mãe separada, o que em muitos casos significa um maior apoio do pai. Assim tem acontecido. Naturalmente, nessas condições, não é assim tão difícil. Na verdade, independentemente do meu estado civil, sou mãe, e isso é que importa. Estamos sempre os dois presentes na vida do José, nos mais variados momentos. Amamo-lo da mesma maneira e estamos sempre em sintonia. Os três. Embora o casamento formal não exista, nunca nos divorciámos do nosso filho. Declaramos-lhe o nosso amor todos os dias.
– A relação está definitivamente terminada ou há possibilidade de uma reconciliação?
– Nunca sabemos o que o futuro nos reserva, mas a verdade é que neste momento atingimos um ponto de equilíbrio que nos deixa muito confortáveis e felizes.
– O José já está com quatro anos e é um rapaz bastante pertinente e curioso. Sente que tem feito um bom trabalho enquanto mãe?
– Só tenho razões para estar orgulhosa. Mas não é só pelo meu trabalho de mãe, é também por aquilo que ele é, que está na sua matriz, independentemente da educação que tem tido. Frei Bento costuma dizer que o José tem um sorriso que concentra tudo. Como se toda a alegria do mundo tivesse entrado nele.
– Há uma Inês diferente antes e após a maternidade?
– Sou ainda mais sensível e atenta a tudo o que diz respeito às crianças. E acho que agora consigo dar mais importância àquilo que são as autênticas prioridades da vida, sabendo distinguir o essencial do acessório e escolhendo os valores e as áreas onde vale verdadeiramente a pena investir.
Maria Inês Almeida: “O José é uma fonte inesgotável de inspiração”
Foi graças às dúvidas que o filho lhe apresenta que a autora se aventurou nos livros infantojuvenis.