Marta Lowndes é uma mulher de quatro culturas – brasileira, portuguesa, inglesa e americana. Embora a sua base seja em Portugal, nasceu, cresceu, estudou e trabalhou pelo mundo. Arquiteta, pintora, gestora e criadora de joias, Marta vive em permanência o desafio dessa identidade multicultural a par da convivência com duas filhas, cidadãs do mundo com personalidades e percursos muito próprios. Em exclusivo para a CARAS, em Lisboa, deixou-se fotografar com a sua filha
Catarina e conversaram as duas sobre uma vivência e um atitude fora do comum – uma dupla de mãe e filha que se distinguem pelos contrastes assentes e tolerados numa base de confiança e liberdade.
Catarina e conversaram as duas sobre uma vivência e um atitude fora do comum – uma dupla de mãe e filha que se distinguem pelos contrastes assentes e tolerados numa base de confiança e liberdade.
– As suas origens estão muito para lá de Portugal…
Marta Lowndes – Não deixa de ser muito português vir de diferentes geografias, sobretudo as minhas: a minha mãe é inglesa, o meu pai é português, mais precisamente do Minho, aquele toque ‘português-extra’, e eu nasci no Rio de Janeiro. Alianças muito importantes da nossa história.
– E o seu percurso de vida também foi por esse mundo fora. Descreva-nos o roteiro geográfico da sua vida.
– Tive a sorte de vir para o Porto já na segunda classe. O meu pai teve imenso cuidado em ensinar-nos tudo sobre a cultura típica e tradicional de Portugal, trajes, fado, pratos, vinho verde e costumes. Contudo, foi no Rio de Janeiro que tirei a licenciatura em Arquitetura e Planeamento Urbano. Apesar da exuberância carioca, escolhi casar com
António Lucena de Faria, também português e meu vizinho do Graham, Boavista. Tirámos os dois o MBA em Minneapolis, EUA, decidimos dar uma oportunidade a Portugal e voltámos. Durante sete anos trabalhei para uma multinacional americana e reportava a Londres. A minha ida para os Estados Unidos, seguida de constantes viagens para Londres e para a América, consubstanciaram em definitivo a herança inglesa, muito fácil, muito fluida para mim. Passei a pensar com quatro léxicos culturais diferentes: o brasileiro, o português e o inglês e o americano. De cada um herdei diferentes valores, a densidade romântica portuguesa, a tolerância brasileira, a sabedoria inglesa e o pragmatismo americano.
António Lucena de Faria, também português e meu vizinho do Graham, Boavista. Tirámos os dois o MBA em Minneapolis, EUA, decidimos dar uma oportunidade a Portugal e voltámos. Durante sete anos trabalhei para uma multinacional americana e reportava a Londres. A minha ida para os Estados Unidos, seguida de constantes viagens para Londres e para a América, consubstanciaram em definitivo a herança inglesa, muito fácil, muito fluida para mim. Passei a pensar com quatro léxicos culturais diferentes: o brasileiro, o português e o inglês e o americano. De cada um herdei diferentes valores, a densidade romântica portuguesa, a tolerância brasileira, a sabedoria inglesa e o pragmatismo americano.
– Arquiteta de formação, pintora em algumas fases da sua vida, empresária de negócios em muitas outras, onde a podemos situar?
– Eu não tenho a menor dúvida de que existo para criar. Desde a poesia, minha primeira expressão artística, às formas e lugares da arquitetura, aos planaltos da expressão plástica e à materialidade de produtos, eu vivo e existo tanto no processo de criação como na sua concretização.
– Como surge a aventura das joias Braganzia? Dum ímpeto ou dum velho sonho?
– A ideia surgiu há muitos anos, desde que voltei a Portugal. O olhar estrangeirado faz com que se aprecie verdadeiramente a beleza das artes e da história portuguesa. Por outro lado, a minha mãe cultivou-nos o amor pelas joias, sobretudo as de família, secundada pelo pai, com o enorme gosto pela ourivesaria tradicional.
– O que marca a diferença das joias que cria num universo com tanta e tão diversa oferta?
– Tendo a sua raiz na nossa história, a Braganzia foi desenhada principalmente para as mulheres modernas.
– A Catarina é uma jovem mulher com uma atitude diferente do comum e que, logo na aparência, contrasta com a mãe. Como viveu, e como vive, no dia-a-dia, as diferenças entre mãe e filha?
– Lindamente. Acredito na diferença, na diversidade e na expressão própria, valores emprestados das culturas que são os meus alicerces. Claro que existe algum receio em relação aos ‘novos’ caminhos que a Catarina está a escolher, mas acreditamos nos valores que lhe transmitimos.
– Integrar a Catarina no projeto Braganzia, com a participação dela no vídeo de apresentação, é cumplicidade ou marketing?
– Ambos. Adoro a irreverência da Catarina, o cabelo turquesa e o seu estilo romântico, algo semelhante à
Maria Antonieta, que combina perfeitamente com a marca.
Maria Antonieta, que combina perfeitamente com a marca.
– Catarina, como é que reagiram os seus pais à originalidade da sua aparência e à sua vocação para a música?
Catarina Lowndes – Os meus pais reagem hoje da mesma maneira que sempre reagiram: aceitação sem hesitação. Aceitação foi sempre uma atitude importante dentro de casa. É um dos valores que realmente agradeço aos meus pais por me ensinarem, porque o mundo está repleto de pessoas únicas, com aspetos, culturas e religiões diferentes dos meus.
– Qual é o seu ídolo e quais são as suas referências musicais?
– Sem contar com a minha família, a maioria dos meus ídolos são diretores de cinema ou criadores de videojogos.
Kubrick,
Spielberg,
Tarantino,
Shigeru Miyamoto e
Keiichiro Toyama. Sou uma pessoa altamente visual. Quando escrevo uma música, tenho sempre uma história a ser criada na minha cabeça, como se fosse um filme repleto de emoções, em terras imaginárias. Para mim, a música tem de ter um toque cinematográfico.
Kubrick,
Spielberg,
Tarantino,
Shigeru Miyamoto e
Keiichiro Toyama. Sou uma pessoa altamente visual. Quando escrevo uma música, tenho sempre uma história a ser criada na minha cabeça, como se fosse um filme repleto de emoções, em terras imaginárias. Para mim, a música tem de ter um toque cinematográfico.
– A Catarina canta em que idioma?
– Eu canto em inglês, aliás, todas as músicas da minha banda são em inglês. Canto para milhares de pessoas com os Lionskin. Tem sido uma viagem longa, cheia de emoções, peripécias e muita aprendizagem.
– Onde gostaria verdadeiramente de morar e fazer carreira profissional?
– É uma pergunta complicada, porque eu ainda espero viver em muitos lugares. Aprendi, contudo, que os planos não se concretizam de imediato e por isso neste momento é Portugal. Adoro este país e sou imensamente grata pelas oportunidades que me trouxe. Por estar aqui, tornei-me ‘cantora-entrevistadora’ e ‘youtuber’.
– O cabelo numa cor fora de comum é só para marcar a diferença ou é muito mais do que isso?
– Sempre adorei a cor entre o verde e o azul, cor do mar infinito e ‘transmutante’. Também é uma cor que se encaixa com o meu tom de pele, por isso decidi pintar o meu cabelo da cor do mar. Fiz isto por mim, porque acho bonito. Eu nem noto se as pessoas olham ou não. Aliás, quem nota mais é a minha mãe: quando saímos juntas acaba sempre por observar como é engraçado a quantidade de pessoas que olham.