Com apenas seis anos,
Rui Massena, agora com 42 anos, já tocava piano e a música revelava-se uma arte cada vez mais próxima. Cresceu, investiu na sua formação, concretizou projetos e conquistou o seu lugar no panorama nacional da música clássica. Homem de desafios, decidiu que estava na altura de se lançar noutros voos e apresentou recentemente o seu primeiro álbum enquanto pianista e compositor,
Solo. Neste momento, é também jurado no programa da RTP Got Talent Portugal.
Rui Massena, agora com 42 anos, já tocava piano e a música revelava-se uma arte cada vez mais próxima. Cresceu, investiu na sua formação, concretizou projetos e conquistou o seu lugar no panorama nacional da música clássica. Homem de desafios, decidiu que estava na altura de se lançar noutros voos e apresentou recentemente o seu primeiro álbum enquanto pianista e compositor,
Solo. Neste momento, é também jurado no programa da RTP Got Talent Portugal.
A seu lado em todas as ocasiões tem contado com o apoio da mulher,
Clara Coelho, médica, de 42 anos, de quem tem dois filhos,
Pedro, de 11 anos, e
Manuel, de seis.
Clara Coelho, médica, de 42 anos, de quem tem dois filhos,
Pedro, de 11 anos, e
Manuel, de seis.
– Como surgiu a paixão pela música?
Rui Massena – Não sei. A imagem que tenho é a de estar a estudar, aos seis anos, com o compositor César Morais, em casa dele, ao piano. Ele dormitava e, sempre que eu errava uma nota, acordava. Mais tarde, lembro-me das matinés em casa dos meus pais com amigos deles, numa altura em que apareceram as aparelhagens e ouvíamos muitos discos, ou com amigos deles que tocavam. Como eu estudava música, o meu pai gostava de me chamar nessas ocasiões e pedia-me para tocar para os amigos. Não gostava muito [risos].
– Mas para se tornar maestro teve de percorrer um longo caminho…
– Claro. Depois de muitos estudos, com 16 anos comecei a compor as minhas coisas, a dirigir orquestras e coros e há uma altura em que o diretor da Academia de Música de Vilar do Paraíso, aquela que hoje é a melhor escola de arte privada portuguesa, me oferece uma batuta e acho que aquilo me pôs a pensar de que forma poderia usar aquele instrumento. Sempre gostei de dirigir, de comunicar com pessoas e achei que poderia seguir aquele caminho e desenvolver este gosto. Vim para Lisboa e comecei a estudar direção de orquestra. Fui a única pessoa do meu ano a entrar e aí começou a minha vida na música feita com pessoas.
– Como é que se cria uma ligação com a batuta?
– Através da música. A grande aprendizagem na direção de orquestra é a ligação ao texto dos grandes compositores. A batuta é apenas uma extensão do braço. O intérprete tem de ser o mais rigoroso possível em relação ao texto e fazer com que toda a orquestra se una no sentido de recriar aquela obra de arte.
– Tornou-se rapidamente conhecido. Lidou bem com isso?
– O reconhecimento faz parte de quem escolhe o palco e preparei-me desde muito cedo para isso. A quantidade de exposição que me foi aparecendo foi fruto de duas ou três coisas mais emblemáticas, como os 12 anos em que dirigi a Orquestra Nacional da Madeira e o projeto que fiz em Guimarães, na altura que foi capital da cultura… Quando comecei a aparecer na televisão com o programa Nascer para Cantar, na TVI, a Operação Triunfo e o Música Maestro, ambos na RTP, começo a ficar mais próximo das pessoas que entendem que eu represento a música clássica. Há alturas em que naturalmente nos encantamos, mas também acho que, fruto da minha profissão, nunca me pude encantar muito, já que o lugar de maestro é muito criticado e pouco amado. Temos de fazer tudo com muita humildade.
– É comum os maestros terem um lado irreverente. É a música que traz isso ou a personalidade?
– Acho que faz parte da personalidade. Ainda não era maestro e já gostava de uma certa excentricidade. Acho que no fundo tem a ver com o facto de ser apaixonado pelas coisas que faço e porque me dedico a elas com intensidade. Deixo-me ir na corrente das coisas. Acho que a minha irreverência surge porque não posso tomar liberdades na música enquanto maestro e acabo por fazê-lo na vida pessoal.
– E foi essa necessidade de liberdade que o levou a criar o álbum Solo?
– Sim. Como não posso mexer nas palavras de um Mozart ou de um Shakespeare, achei que poderia fazer as minhas canções. Tardei tanto a fazê-las porque conheci tantos sons tão bons que era difícil achar que poderia fazer alguma coisa de jeito. Acho que o facto de conhecer coisas tão boas me trouxe o receio de errar. Tive de perceber que tenho um mundo enquanto maestro e diretor artístico e outro enquanto compositor. Acho que é um disco que proporciona bem-estar e era isso que me apetecia neste momento. Nunca quis mostrar que sei tocar piano ou que sou virtuoso, são só as minhas palavras.
– A escolha do piano revelou-se como um regresso ao início de tudo?
– Acho que sim. A relação com o piano é muito boa, sai só de mim e dá voz àquilo que sinto. No fundo, também senti uma necessidade de, ao fim de tantos anos rodeado de pessoas, me isolar e existir de outra maneira.
– Há um Rui antes e depois deste álbum?
– Claro. Podia continuar na imagem do maestro, mas decidi ir atrás de algo que me faz feliz e é isso que vou continuar a fazer.
– Com a dedicação à carreira, sobra tempo para a família?
– A minha mulher tem sido fundamental em todo o meu percurso. Ela é uma brilhante médica internista, mas sobretudo uma brilhante companheira. É a minha musa inspiradora. Fomos feitos um para o outro. Os meus filhos… têm o meu exemplo, de uma pessoa que se sujeita à crítica, mas ultrapassa o medo de arriscar. Acho que isto faz com que eles entendam os meus momentos de ausência.
– Os seus filhos demonstram aptidão pela música?
– Gostam de me ouvir tocar e convivem naturalmente com as artes. Por acaso estudam música, mas serão aquilo que quiserem.