Chama-se Henrique de Sousa Neto, tem 78 anos, e quer ser o próximo Presidente da República. É casado, em segundas núpcias, com Margarida Rocha e Costa. Têm, em conjunto, duas filhas.
Conhecê-los foi uma agradável surpresa: ele, figura determinada e pragmática, tem o porte atlético de um jovem e uma voz clara e bem timbrada, que prende e encanta o interlocutor. Quando fala corta a direito, transpirando verdade. Sua mulher, Margarida, mais reservada, com quem tive oportunidade de privar durante duas horas, é senhora de um carisma e de uma cultura assinaláveis. Licenciada em Economia, fala fluentemente quatro línguas. Visitámo-los na sua casa de São Pedro de Moel, a um passo do mar, para o conhecer melhor.
Nasce em Lisboa, mas é filho de uma família operária da Marinha Grande. Faz o Curso Industrial na escola Fonseca Benevides. Aos 15 anos adere ao MUD juvenil e, desde então, escreve textos de natureza política. Aos 16 anos trabalha, como operário, na indústria de moldes. Participa, em 1958, na campanha de Humberto Delgado. É candidato, pela oposição democrática, nas eleições legislativas, em 1969. Em 1973, ajuda a organizar o III Congresso da oposição democrática, em Aveiro. Completado o serviço militar, em Infantaria, retoma a vida empresarial para fundar a Iberomoldes e fazê-la crescer até ser líder no sector de moldes. Cria, ainda, uma segunda empresa, agora no sector automóvel, e que é hoje uma das melhores e maiores a nível europeu. Pratica vela e gosta de fazer caminhadas.
– Um candidato deve estar preparado, simultaneamente, para perder e para ganhar. Sente-se clivado?
Henrique Neto – Tenho a convicção de que se as condições forem iguais para todos, nomeadamente no acesso às televisões, posso ganhar, porque sou o candidato mais bem preparado para uma Presidência da República especialmente difícil, e para ajudar a superar a crise, quer política, quer económica e social. Tenho a experiência humana, política e empresarial, nacional e internacional, que nenhum outro candidato possui. Assumi sem hesitações posições críticas sempre que estive convencido de que o caminho era errado. Contudo, não o fiz como comentador de fim de semana ao longo dos anos, nem escolhi o momento mais conveniente. Intervim sempre com uma atitude construtiva, apresentando propostas de solução alternativas, como, por exemplo, com duas moções apresentadas em dois congressos políticos, com inúmeros artigos nos jornais e através do meu livro Uma Estratégia para Portugal. Lembro ainda alguns escritos de há 25 anos sobre a União Europeia, a apresentação há década e meia da Irlanda, como o modelo a seguir pela economia portuguesa, assim como os avisos feitos aos portugueses sobre os perigos, para mim evidentes, da governação de José Sócrates. Por fim, considero que a minha vida empresarial me ajudará a antecipar os desafios principais que temos diante de nós e com isso ajudar os governos a evitar as suas consequências negativas para os portugueses.
– Há três meses, a sua vida mudou de forma radical. O que o fatiga quando em campanha?
– Sempre tive uma grande resistência física e emocional e não me canso facilmente. Reconheço, contudo, a minha frustração quando vejo os partidos políticos a enganar os portugueses, ou os governos a cometer erros por vezes infantis e com consequências perfeitamente evitáveis, como, por exemplo, os estádios, as parcerias público/privadas, ou o aeroporto de Beja, como actualmente o erro de quererem investir 800 milhões de euros no porto do Barreiro, que nunca será rentável.
– E do que mais gosta?
– A capacidade de colocar as pessoas a falar umas com as outras, conciliar perspectivas diferentes e, principalmente, a intransigência com as práticas políticas que estão a destruir a democracia portuguesa, como sejam as lutas permanentes e inúteis entre os partidos à custa do interesse nacional, a corrupção e a promiscuidade entre a política e os negócios. Um forte posicionamento ético e a pedagogia do exemplo ajudar-me-ão a ter o apoio dos portugueses e a prestigiar Portugal além-fronteiras.
– Que características é necessário possuir para representar bem a nossa nação e a nossa bandeira?
– A visão abrangente e positiva que tem do nosso tempo e das necessidades de mudança, bem como a capacidade de antecipar os principais problemas que teremos no futuro. As motivações éticas e a coragem para transformar essas motivações em acções.
– Com que olhos vê o novo Acordo Ortográfico?
– Conforme um texto que publiquei na candidatura, o Acordo Ortográfico, como está, foi um enorme erro e um exemplo da impreparação dos partidos para tomar decisões que transcendem a pequena política. A minha proposta é para se legislar uma moratória de cinco anos, nomear uma comissão de especialistas para ser proposta uma posição técnica ao Governo e ao Parlamento, e só depois se fazer a votação na Assembleia da República, devendo a publicação da lei ser feita simultaneamente em todos os países de língua portuguesa.
– Afirma-se homem de esquerda. A esquerda é melhor do que a direita? Porquê?
– Ao longo dos anos fui compreendendo que a solução dos principais problemas nacionais não é apenas de esquerda ou de direita. Em qualquer caso, como sofro com as dificuldades e a pobreza dos portugueses, reconheço que a esquerda tem maior sensibilidade social e mais vontade de distribuir com maior justiça os sacrifícios. No entanto, é preciso produzir mais para distribuir melhor e defender melhor o Estado social, razão por que não gosto do endividamento, que nos tornou dependentes e à mercê dos credores, situação que temos de ultrapassar rapidamente através do crescimento económico e das exportações, trabalhando com os empresários portugueses.
– Sei-o admirador do Papa Francisco. O que mais o impressiona na sua personalidade e modo de ser?
– A visão abrangente e positiva que tem do nosso tempo e das necessidades de mudança, bem como a capacidade de antecipar os principais problemas que teremos no futuro. As motivações éticas e a coragem para transformar essas motivações em acções.
– Em que é que a primeira-dama não pode, ou não deve, ajudar o marido?
– Na tomada de decisões com as quais ela não concorda.
– Quais são, para si, enquanto português, os traços mais marcantes da identidade portuguesa?
– Termos chegado aqui, vindos de muitos lados e não termos parado perante o grande obstáculo marítimo, para com enorme coragem, imaginação e capacidade de sacrifício, ir além, para todos cantos do Mundo, onde, ainda hoje, temos milhões de concidadãos à espera do reencontro, que, infelizmente, tem sido desperdiçado. Em tempo de globalização temos de corrigir isso e voltar a repetir o sucesso passado, agora no plano da política e da economia.
– Que pode Portugal esperar de si, caso vença as eleições?
– Trabalho, seriedade e alguma sabedoria. Também a consciência plena das dificuldades que me esperam e a determinação suficiente para as vencer, porque me preparei para isso ao longo da vida.
– Para terminar com bons ventos: é possível encontrar-se uma afinidade entre a vela e a política?
– Certamente que sim: “Não há bom vento para quem não sabe para onde vai”.
Nota: por vontade da autora, este texto não segue as regras do novo Acordo Ortográfico.
Henrique Neto, candidato à Presidência da República: “Não somos apenas europeus”
O candidato à Presidência da República conversou com Rita Ferro na casa que tem em São Pedro de Moel, a um passo do mar, onde a CARAS o fotografou na companhia da mulher, Margarida Rocha e Costa.
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