Não é só fisicamente que Graça e Gracinha Viterbo são parecidas. Apesar de serem de gerações diferentes, mãe e filha partilham a paixão pela decoração de interiores, a forma de educar os filhos, a sensibilidade estética e muitas inspirações, tanto profissionais como pessoais. Talvez por isso Graça tenha confiado o legado de uma carreira que já conta com cinco décadas a esta sua parceira criativa, que, ao lado do marido, o gestor Miguel Vieira da Rocha, internacionalizou a Viterbo Interior Design, levando-a até à Ásia e a África. Não obstante o facto de já ter “passado a pasta” à filha, de 41 anos, a fundadora deste projeto familiar continua a assumir alguns projetos, recusando-se a gozar a reforma longe do cenário onde realizou os seus sonhos.
Numa conversa no feminino, na qual Alice, de nove anos, filha de Gracinha, também teve o seu protagonismo, as decoradoras de interiores partilharam como se tornaram mulheres independentes, que conciliam carreiras de sucesso com vidas familiares plenas de afetos.
– Quem vos observe, fica com a sensação de que entre as três não existe o chamado gap geracional…
Graça Viterbo – Há esse gap, sim. Com três filhos e oito netos, é inevitável. Basta ver a reviravolta que os computadores deram às nossas vidas.
Gracinha Viterbo – Temos personalidades diferentes. Quando os meus filhos e eu vamos no carro, todos a falar ao mesmo tempo, e lhes peço para fazerem menos barulho, o meu filho diz-me: “Ó mãe, somos latinos!” Além disso, fomos educados para ter opinião.
Graça – Sim, isso é verdade. Educamos os filhos para terem opinião, mas depois também podemos sofrer com isso, porque podem desenvolver uma certa rebeldia. [Risos.] Mas é ótimo ter filhos independentes, que sabem o que querem.
Gracinha – Mas nós também somos filhos de dois rebeldes.
– A Graça foi uma rebelde?
Graça – Sou da geração dos hippies e das mulheres que queimaram sutiãs. Lutámos muito para sermos o que os nossos pais não foram. Quisemos liberdade para pensar e para sermos o que quiséssemos. Nos anos 60, vivemos uma série de acontecimentos que nos marcaram profundamente e cuja filosofia, que passa pela abertura de espírito e pela criatividade, tentámos transmitir aos nossos filhos.
Gracinha – Mas transmitir esses valores não era assim tão comum na nossa sociedade. Lembro-me de achar que tinha uma mãe muito mais liberal do que as dos meus amigos. No colégio havia farda e a minha mãe cosia certos pormenores nas nossas para irmos diferentes. Ela dizia-nos que éramos únicos e que não tínhamos de ir iguais aos outros. Não era uma diferença de ego, era uma liberdade de expressão.
Graça – Quis que desde cedo as minhas filhas começassem a escolher as suas toilettes, de maneira a estimular o seu sentido estético. E hoje em dia são mulheres com estilo, que sabem muito bem do que gostam e se afirmam à sua maneira.
Gracinha – Outro aspeto em que sentia que os meus pais eram diferentes prendia-se com o facto de nos perguntarem muito a nossa opinião. Conversávamos à mesa. Às vezes, ia dormir a casa de amigos e estava tudo em silêncio à mesa ou então jantavam a horas diferentes. Para nós, era impensável não jantarmos juntos. O diálogo sempre foi muito importante na nossa casa.
Graça e Gracinha Viterbo: Decoradoras de interiores contam o que as inspira na vida e no trabalho
Alice juntou-se à mãe e à avó e provou que nesta família a criatividade atravessa gerações.
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