Embora tenha crescido sob a influência do pai, o pintor e escultor Carlos Vidal, Rueffa nunca sonhou ser artista plástica. Porém, o talento estava lá e a pintura como forma de vida, de manifesto, de afirmação e de mensagem tornou-se fundamental quando, aos 17 anos, foi atropelada e esteve hospitalizada muito tempo. Licenciou-se em História da Arte, trabalhou na banca, mas a necessidade de provocar emoções através dos seus quadros falou mais alto. Depois de ter conquistado Londres e Nova Iorque, a artista, que já se afirmou nos meandros da Neopop Art, abriu agora a sua arte aos portugueses, de forma totalmente gratuita, na exposição Welcome, patente num espaço renovado da Igreja de São Mamede, em Lisboa.
Numa conversa em que nos contou um pouco do seu percurso, Rueffa, de 32 anos, resumiu de forma divertida como é a sua vida quando não está a pintar: “Faço artes marciais (já fui federada em aikido), finjo que faço surf – comprei uma prancha profissional e nem sequer sabia que eram precisas as quilhas [risos] – e adoro praia, digo mesmo que sou tanorética [termo que designa a obsessão com a pele morena].”
– Sente que na vida tudo a conduziu à arte?
Rueffa – Venho de uma família artística, aprendi tudo com o meu pai, que tem o ateliê Relevo, onde adquiri todas as minhas competências, mas não queria seguir esta vertente. Queria ser atriz/comediante, ou hospedeira, ou até astronauta. Passavam-me muitas coisas pela cabeça. Mas desde muito nova que pintava caras de pessoas para ter o meu próprio dinheiro, até que a coisa se tornou mais séria, com encomendas, e tudo começou a partir daí, mas ainda sem pensar na possibilidade de ser apenas artista plástica (aliás, não gosto de me intitular assim). Pintava por amor. Só percebi que podia ir por este caminho quando me dei conta de que quem vê um trabalho meu não o esquece. São retratos-ícones, mas são mais do que isso, porque têm um lado autobiográfico, acabo por me revelar neles. E demoro muito tempo a criá-los, porque são uma extensão do meu corpo. E como tudo isto foi crescendo, decidi tirar a vergonha de casa e apresentar-me ao público. Pintei como se fosse ele.
– Porque expor o seu trabalho é, de alguma forma, expor-se a si?
– Sim, nem mais! Ponho-me muito na pele de quem pinto. Tenho um quadro do Freddy Mercury, que adoro, e quando o terminei fiquei triste e a chorar, porque dei por mim a pensar que ele, se cá estivesse, gostaria do quadro. Quando pintei a Amália Rodrigues ficava dia e noite a ouvi-la cantar, a ver entrevistas… Quando fiz o quadro da Maria Callas, acordava a chorar, porque vivia de forma superintensa os sentimentos dela, e tinha sempre o mesmo pensamento: como é possível haver tanta injustiça? Vivo cada pessoa que pinto. Normalmente é a vida deles que me interessa, a garra. E esta é a minha forma de os eternizar, de lhes agradecer.
Rueffa confessa:“Vivo cada pessoa que pinto”
Depois de conquistar Nova Iorque, a artista quis trazer a sua arte aos portugueses, de forma gratuita, na exposição “Welcome”