Com a sua primeira longa-metragem, Listen, que fala do drama de famílias portuguesas imigradas no Reino Unido a quem os serviços sociais, por razões diversas, retiram os filhos e os encaminham para adoção, Ana Rocha de Sousa, de 41 anos, conquistou quatro prémios no Festival de Cinema de Veneza: o Bisato d’Oro, atribuído pela crítica independente, o Sorriso Diverso Venezia, pela abordagem às questões sociais, o prémio especial do júri da secção Horizontes e, mais importante ainda, o prémio Leão do Futuro, para a melhor primeira obra. Troféus que nos mostrou, orgulhosa, à chegada ao aeroporto de Lisboa no passado dia 13, onde a esperavam o marido, Pedro Mendonça, profissional na área farmacêutica, e a filha do casal, Amália, de seis anos, a quem na véspera Ana dedicara o filme ao agradecer os prémios no palco do festival italiano.
Contar-nos-ia depois que a primeira coisa que a filha lhe perguntou ao telefone foi: “Mãe, porque é que falaste em mim?”. “Fez-me a pergunta simultaneamente contente e curiosa”, explicou Ana, que lhe respondeu: “Filha, quando cresceres vais perceber.”
Ao chegar ao aeroporto, Amália trazia nas mãos um leão de peluche, uma prova do sentido de humor do pai, que preferiu manter-se à margem das fotografias, explicando: “O momento é da Ana, quero que ela o aproveite.” E assim foi: simpática e humilde como sempre se mostrou ao longo da carreira, que iniciou como atriz, na série Riscos, tendo passado pelo curso de Pintura nas Belas-Artes e detendo-se agora na realização de cinema, depois de ter estudado na London Film School, Ana Rocha de Sousa disponibilizou-se para entrevistas, fotografias e sorrisos a quem lhe gritava “parabéns” ao reconhecê-la, sem nunca perder a paciência ou acusar o cansaço inevitável.