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Sandra Cóias cedo percebeu que para se sentir bem e equilibrada tinha de estar em harmonia com a Natureza. É vegan há mais de 20 anos e tem apoiado várias organizações que promovem a defesa dos animais, a conservação ambiental e a adoção de estilos de vida mais sustentáveis. Em maio, escreveu uma carta aberta ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e a representantes parlamentares, “Pelo não regresso à normalidade”, um apelo que lançou para que se adotem comportamentos mais sustentáveis.
Consciente de que mudar hábitos requer conhecimento e inspiração, Sandra partilha nesta entrevista alguns dos passos que se podem dar neste caminho de mudança.
– Como começou a preocupar-se com esta temática da sustentabilidade?
Sandra Cóias – Sempre estive atenta ao que me rodeia e, com o passar dos anos, comecei a perceber o impacto que as minhas ações têm no mundo. Começar a estar associada a causas animais e ambientais foi o passo seguinte. Sem saber, já tinha comportamentos que refletiam essas minhas preocupações ambientais. Protegemos e defendemos o que amamos.
– Foi um processo de consciencialização progressivo?
– Alguns hábitos já os tinha, outros adotei à medida que ia aprendendo mais, como o deixar de consumir carne. Numa viagem a Marrocos, quando tinha 14 anos, aprendi algo muito importante, inspirado no comportamento dos tuaregues: causar o menor impacto possível por onde passamos.
– Que hábitos sustentáveis tem hoje no seu dia a dia?
– Sou vegan há mais de 20 anos e defendo a política dos 5 ‘r’: reduzir, reutilizar, reciclar, recusar e compostagem, em inglês rot. Uso a minha garrafa de água reutilizável, uso produtos de higiene sólidos e sem embalagens, reciclo o que não posso aproveitar, uso escova de dentes de bambu, sacos de compras reutilizáveis, utilizo produtos de limpeza ecológicos, uso produtos vegan e não testados em animais, compro produtos nacionais e da época e apenas o que necessito, para não desperdiçar alimentos, faço compostagem, uso roupa em segunda mão e vou doando a que não uso. Limpo o meu lixo de e-mail, aderi às faturas eletrónicas e tenho atenção ao consumo de água e de energia. Se todos tiverem uma atitude consciente em relação às suas ações diárias, grandes transformações acontecem.
– A sustentabilidade também virou um bocadinho moda. Acha que há aproveitamento à volta disso?
– Sim, claro que existe algum aproveitamento. Mas é importante relembrar que cada um de nós tem o poder de escolher, de comprar o que quer. A nossa escolha influencia o mercado. Se uma determinada marca percebe que os produtos que respeitam o ambiente estão a ter um interesse crescente por parte dos consumidores, vai acabar por seguir essa tendência.
– Também há uma tendência para se demonizar comportamentos como o uso dos plásticos e a ingestão de carne. Concorda?
– O plástico é um material útil se for bem usado. O problema é que este começou a ser banalizado e utilizado para servir como embalagem para produtos de consumo rápido. Devemos recusar comprar vegetais ou outros produtos que venham embalados e dar preferência às mercearias que vendem a granel. Em relação ao consumo de animais, penso que se a grande maioria das pessoas visse as condições em que sobrevivem esses animais, se soubesse o que realmente está a ingerir e o que causa a sua ingestão, certamente que haveria uma diminuição no seu consumo.
– Que medidas é que o governo, empresas e entidades reguladoras podem tomar para incentivar comportamentos mais sustentáveis?
– Como defendemos na carta aberta que escrevemos, “precisamos de uma transformação radical e isso requer atrevimento e coragem por parte dos nossos líderes”. No entanto, só será possível com o compromisso de todos. O bem-estar coletivo deve ser o valor maior da humanidade, garantindo um estilo de vida mais sustentável.
– Acha que há informação suficiente para quem quer mudar de hábitos? O que sugere para quem quer saber mais do assunto?
– Acho que pode haver mais informação, especialmente nas escolas, para que as novas gerações cresçam com princípios mais sustentáveis. A informação está disponível, mas acredito que por vezes seja difícil saber por onde se deve começar. Existem documentários fundamentais para compreender melhor o mundo que nos rodeia e para quem queira mudar de hábitos: Cowspiracy, Food Matters, Minimalism, What The Health, A Plastic Ocean, Virunga, Home, Chasing Ice e Before the Flood.