“2020 começou assim:
De braços abertos para o mundo e para a vida.
Acabar um trabalho que tanto prazer me deu e poder celebrá-lo com a sensação de dever cumprido, com a mesma resilliência e combatividade das quais eu própria dificilmente me consigo demover em prol de ideais, de princípios, da necessidade de manter a profissão e a vida intactas. Tudo isso tem um preço. Paguei-o no início de março, no princípio da pandemia.
Aproveitei o tempo para repensar a minha vida em função das histórias que quero contar, em função das pessoas com quem gostaria de trabalhar. Em função da liberdade que devemos todos ter no nosso trabalho, sem medo, sem necessidade de acenar para lembrar ao mundo que existimos.
O que queremos contar? Quais são as nossas urgências? Temos ferramentas para o fazer sem depender constantemente de terceiros?
A indústria procura mulheres até aos 30 e dá mais 30 anos de bónus ao sexo masculino. Podemos contrariar essa tendência?
2020 foi também o ano em que fiquei sem a minha avó quando nada o fazia prever. Não foi de covid.
Por isso para 2021 e daí em diante, é em cima do despojamento que é urgente trabalhar, mas também sobre fazer as coisas em parceria, fazer projectos de colaboração, procurar idéias e as palavras que queremos dizer.
Estou livre para escolher o país onde vou morar, o canal onde vou trabalhar, o canal onde vou navegar.
Não somos descartáveis. Não aceitamos prazos de validade.
2021, estou pronta!”
Recorde-se que a avó de Dalila Carmo morreu em novembro, aos 96 anos.