Rodrigo Guedes de Carvalho sofreu uma grande perda. Um amigo de infância do jornalista da SIC morreu aos 57 anos.
De luto e em choque com esta partida prematura, Rodriguo Guedes de Carvalho usou as redes sociais para uma última homenagem. Além de publicar uma fotografia captada durante a juventude, onde surge com um grupo de amigos, escreve ainda um texto sentido no qual expressa saudade e dor.
Leia aqui:
“HOJE LEVANTEI-ME muito cedo, como sempre, e longe de imaginar que em poucas horas me morreria um amigo. Eu ia a guiar e a campainha das mensagens desata num gemido insistente, a pedir-me atenção que eu nunca dou de imediato, tão farto de saber o que querem as mensagens seguidas a gemer; vêm sopradas por mau vento. Nunca imaginei o nome que lá vinha. Um amigo de infância e adolescência é um irmão que a gente transporta para sempre. Mete-se pelo meio a vida, mais as suas obrigações e distâncias, ou simples cansaços que nos dizem para adiar aquele almoço combinado. Mas os irmãos nem precisam disso. Os irmãos encheram tanto o copo na infância, que temos para esbanjar memórias que suportam ausência, memórias tão vívidas como ossos que rangem a crescer. Temos hoje 57 anos e há linguagens que só nós sabíamos, palavras e caretas, parvas e imortais como dedadas numa janela tocada pelo vapor da chuva. Ainda ontem (ontem mesmo, caramba, como é possível) ainda ontem fiz uma longa viagem de carro sozinho, e levei para ouvir os discos que fizeram de mim quem sou, para bem e mal, e que descobrimos juntos. E em quatro ou cinco canções lembrei-me, e num outro momento ri-me porque me vi fazer ao espelho o trejeito com que nos entendíamos quando entrava na sala alguém com “níveis elevados de azeite escorrido”. Fiz a careta para o retrovisor a pensar que poucas pessoas, neste mundo que tive e tenho, saberiam que naquele momento estou a dizer “olha aí níveis elevados de azeite escorrido”. Não entendo ainda, meu querido Nuno Raposo de Magalhães Ortigão de Oliveira, que tenhas partido assim, porque me levas, sem autorização, este pedaço grande de nós meninos a imaginar o que seria sermos grandes. Acho que em grande parte é isto, ser adulto que não quero ser, tão farto de forrar toda a vida o coração para tentar suportar as perdas. Não é hoje que consigo, nem sei quando ou se. Foste andando, eu hei-de aparecer. Obrigado pelo amor da nossa amizade. Não há outra palavra.”