A 9 de janeiro de 1981, Francisco Pinto Balsemão tomava posse como primeiro-ministro, logo após a morte do líder do PSD e primeiro-ministro da altura, Francisco Sá Carneiro, cargo que assegurou durante dois anos e meio. Quarenta anos depois, o atual primeiro-ministro, António Costa, escolheu os jardins da sua residência oficial, em São Bento, para homenagear Balsemão, militante número 1 do PSD e fundador do grupo Impresa, perante uma plateia de ilustres, constituída sobretudo por figuras da política e do meio empresarial, além da família do próprio. Presentes estavam, por exemplo, os antigos Presidentes da República António Ramalho Eanes e Aníbal Cavaco Silva, o presidente do PSD, Rui Rio, e ainda figuras destacadas como Manuela Ferreira Leite, Jorge Moreira da Silva, Paulo Rangel, Mota Amaral, Carlos Carreiras ou João de Deus Pinheiro. O atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, passou por São Bento para trocar algumas palavras com o homenageado e felicitá-lo, mas não ficou para assistir à cerimónia, o que muitos interpretaram como um sinal de desagrado por ter sido retratado de forma pouco lisonjeira no livro de memórias de Balsemão, que acaba de ser publicado.
No seu discurso, António Costa destacou a ação política e empresarial do homenageado na “libertação da sociedade civil, visando especialmente uma plena democracia representativa em Portugal”, notando que o VII Governo Constitucional da democracia portuguesa, a que Balsemão presidiu, assegurou a transição da revolução para a democracia: “Podemos olhar agora com distanciamento para o essencial que ficou: uma democracia consolidada, uma correta articulação entre o poder civil e o poder militar, a integração europeia prosseguida, um novo quadro do direito penal próprio de uma sociedade democrática e projetos de desenvolvimento fundamentais.” O primeiro-ministro destacou ainda o papel de Balsemão para o cimentar da liberdade de informação, com a fundação de um jornal de referência, o semanário Expresso, e mais tarde, nos anos 90, com a criação de um canal de televisão privado, a SIC.
Um papel relevante, que também Ramalho Eanes lhe reconhece, ainda que sejam públicas as divergências que o opuseram ao então primeiro-ministro: “Depois do 25 de Abril, havia uma grande situação de intolerância, portugueses contra portugueses, por razões ideológicas e outras, e eu entendi que um dos meus papéis institucionais era tentar restabelecer a tolerância. Também por essa razão hoje tinha de estar presente. O Dr. Balsemão teve um papel muito importante no restabelecimento da democracia e é razoável que lhe prestem homenagem por esse motivo.” Cavaco Silva, por seu lado, preferiu não se alongar em comentários sobre esta homenagem. “Esta é a homenagem que o primeiro-ministro entendeu prestar, para a qual fui convidado e tenho muito gosto em estar presente”, declarou laconicamente.
João Bosco Mota Amaral, antigo presidente do Governo Regional dos Açores e amigo de longa data do homenageado, teve a seu cargo o papel de inaugurar esta cerimónia, considerando a homenagem muito merecida e desejando estar à altura de prestar “justiça a todos os seus feitos”. Francisco Pinto Balsemão discursou de seguida, sob o olhar atento e orgulhoso da mulher, Mercedes Balsemão, de quatro dos seus cinco filhos e de quatro dos seus 14 netos. Naturalmente, o homenageado não esqueceu a família nos agradecimentos que fez: “Uma referência especial à minha família. À minha mulher, que ao longo de quase cinco décadas tem sido para mim uma constante e renovada fonte de inspiração e de energia, aos meus filhos e netos e às minhas noras, todos aqui bem representados e seguindo já cada um o seu percurso.” Depois, dirigiu algumas palavras a António Costa, elogiando o seu fair-play, já que têm cores políticas diferentes: “Ser respeitável é ser respeitado, mas também ser respeitador. Dos outros, das instituições, das ideias com que não concordamos. E também respeitarmo-nos a nós próprios, o que não será fácil mas é essencial, porque sem isso não há coerência possível. E a coerência é parte essencial do respeito e da responsabilidade. Foi nesse sentido que aceitei, com muita honra e muito prazer, a sua iniciativa de promover esta homenagem.”
Fotos: Paulo Jorge Figueiredo