Todos os dias pega num livro, nem que seja para ler uma página. Tem milhares. Coleciona-os e devora-os como se fossem suficientes para se alimentar, e no fundo alimentam-lhe a alma. Cresceu com a velha máxima “os livros são nossos amigos” e recitar Os Lusíadas de cor era um dos seus passatempos preferidos em criança. Hugo Sousa Tavares, ou melhor, Hugo van der Ding, apelido holandês que não quer dizer nada e que adotou por motivos profissionais já depois de ter vivido em Amesterdão, onde passou cinco dos anos mais importantes em termos formativos da sua vida. Estudou Direito, curso que abandonou por ser “aborrecido”, quis ser diplomata para “conhecer o mundo”. Foi durante dez anos tradutor literário, é autor da extinta página de Facebook Cavaca Para Presidenta e conhecemo-lo ainda pelas famosas tiras humorísticas que partilha de forma altruísta nas redes sociais, onde tem largos milhares de seguidores, nomeadamente com as personagens A Criada Malcriada (que lhe valeu a edição de um livro) ou Juliana Saavedra, A Psicanalista Que Deixa Os Pacientes Na M****. Pelo meio realizou outro dos seus sonhos de criança: ser ator. Estreou-se no Teatro Rivoli com O Nome da Rosa, texto que escreveu em coautoria com Pedro Penim. Também já fez televisão. Podemos ainda ouvir a sua voz nas manhãs da Antena 3, onde partilha as notas necrológicas na rubrica Vamos Todos Morrer, que resultou também num livro. Na mesma rádio tem, juntamente com o seu primo, o maestro Martim Sousa Tavares, o podcast Duas Pessoas a Conversar. Mas desbravar caminho e ser o que quiser, desde que o realize, divirta e torne feliz, é o seu objetivo. E “quando for grande”, como nos diz com graça, quer escrever, não só livros, mas para cinema e teatro. Já a exposição mediática não lhe interessa, porque “é cansativo”, como nos confessou quando o encontrámos na última edição do Portugal Fashion, na Alfândega do Porto, onde esteve a conduzir a emissão em live stream na internet. Vestido por David Catalán, não conseguiu negar-nos fotos nem o prazer de conhecermos melhor este criativo que vive com transtorno bipolar diagnosticado já na fase adulta, o que implica terapia e medicação para o resto da vida. Van der Ding, de 45 anos, não comunicou connosco através de desenhos, mas antes na conversa cheia de graça que anima estas páginas.
Uma entrevista para ler na edição n.º 1396 da revista CARAS.