Aos 54 anos, e com 27 de carreira em televisão, teatro e cinema, o ator australiano Hugh Jackman viveu recentemente aquela que diz ter sido a experiência mais marcante do seu percurso de ator: a partilha do grande ecrã com Anthony Hopkins, Laura Dern, Vanessa Kirby e o estreante Zen McGrath em O Filho, o novo filme do encenador, argumentista e realizador francês Florian Zeller. Uma obra que faz parte de uma trilogia que Zeller encenou em França e que inclui A Mãe e O Pai, que na versão cinematográfica franco-britânica lhe deu vários prémios, entre eles o Óscar de Melhor Argumento Adaptado, e proporcionou o de Melhor Ator precisamente a Anthony Hopkins, em 2021.
“Estava assustado, vulnerável, inquieto. (…) Felizmente, tive a minha mulher para partilhar o que estava a viver.”
Hugh conhecia o trabalho de Zeller e há sete anos esteve quase a levar ao palco uma peça dele, mas o projeto não se concretizou. Mas quando, em apenas um dia, leu o texto de O Filho, ficou hipnotizado. “Soube pelo meu agente que o filme ia ser feito e tinha acabado de ver O Pai, que adorei. Consegui o e-mail do Florence, escrevi-lhe e disse-lhe que sou um grande fã dele e que, sem querer ser presunçoso, se ainda não tivesse escolhido outro ator, me dissesse qualquer coisa. Três horas depois recebi uma resposta dele a dizer que ainda não tinha escolhido ninguém e que queria conversar comigo”, contou à revista Variety o multitalentoso ator australiano – além de representar, canta e dança –, que no currículo inclui nove filmes da saga X-Men (à qual vai regressar em breve) ou a versão para cinema do musical Os Miseráveis (que lhe deu uma nomeação para o Óscar de Melhor Ator em 2012), adiantando: “No dia seguinte reunimo-nos pelo Zoom e eu estava tão aterrorizado com a ideia de conseguir o papel como de não o conseguir, pois é difícil ser rejeitado quando se quer tanto uma coisa, mas sabia que ia ser um enorme desafio e que iria levar-me a lugares onde nunca tinha estado.”
“Sabia que este filme ia ser um enorme desafio, que iria levar-me a lugares onde nunca tinha estado.”
E esses “lugares” foram o labirinto emocional que a sua personagem lhe exigiu percorrer. Em O Filho, que estreará em breve nas salas nacionais, Jackman interpreta o papel de um homem que se divorciou e tem uma nova família, mas que se vê de repente a braços com os problemas mentais do filho adolescente, nascido do primeiro casamento, e que o fazem confrontar-se com as suas falhas e demónios. Uma história psicologicamente densa, opressiva, da qual não se conseguia desligar quando regressava a casa e que até o impedia de dormir.
Para este homem, que tem um casamento feliz há 26 anos com a também atriz australiana Deborra-Lee Furness – que conheceu no primeiro trabalho que fez, uma série televisiva na Austrália, em 1995, tinha ele 28 anos e ela 40, e com a qual, depois de dois abortos espontâneos, adotou dois filhos, Oscar, de 22 anos, e Ava, de 17 –, esta história, que pretende ser um alerta para pais ausentes, foi experimentar “emoções que nunca tinha vivido fora dos plateaus”. E deixou-o tão “assustado, vulnerável, inquieto e emocionado” que Deborra chegou a dizer-lhe: “Estás uma desgraça.” “Felizmente, tive a minha mulher para partilhar o que estava a viver”, referiu o ator.
Feliz ao lado da mulher e dos filhos, com quem vive em Nova Iorque, em abril, por ocasião do 26.º aniversário de casamento, Jackman partilhou no Instagram uma foto desse já longínquo dia, que legendou: “Cada dia é cheio de risos, alegria e jogos de gamão. Deb, tu iluminas a minha vida. Amo-te com todo o coração.”