Portugal está de luto. Morreu o comendador Rui Nabeiro, aos 91 anos. Não só uma das maiores fortunas do país, mas também um dos seus melhores empresários, conhecido pelo seu lado humano e coração bom.
Cumprimentava todos com simpatia e distribuia sorrisos com quem se cruzava. Em entrevista à Caras em 2021, orgulhava-se de ter construído um verdadeiro império no mundo do café e com isso ter tido a possibilidade de proporcionar melhores condições de vida aos seus colaboradores e família, o que o deixava naturalmente feliz. “Todos temos que dar mais a quem realmente está mais carente. Bom, dar é uma palavra que não se aplica. Dividir. Não há dúvida nenhuma de que tudo o que se possa fazer em prol do desenvolvimento e de criar riqueza deve ser dividido por quem não tem“, afirnou.
Nascido a 28 de março de 1931 no seio de uma família humilde de Campo Maior, distrito de Portalegre, Manuel Rui Azinhais Nabeiro começou a trabalhar por volta dos 12, ajudando a mãe numa pequena mercearia e o pai e os tios na torra do café. Aos 17 anos, após a morte do pai, assumiu os destinos da pequena torrefação familiar e para fazer crescer a empresa fomentou a venda de café em Espanha, constituindo mais tarde, em sociedade com os seus tios, a Torrefação Camelo.
Acabaria por vender a sua participação aos familiares, criando finalmente, em 1961, a Delta Cafés, que além de um pequeno armazém de mercearias, logo se iniciou na torra do café. Nascia assim a marca Delta, que passados poucos meses se distribuía já em todo o país, sendo hoje uma das maiores no ramo.
Em 1984, criou uma nova fábrica de torrefação, na época a maior da Península Ibérica, e em 1988 a holding Nabeirogest, através da qual soma, atualmente, investimentos no ramo agrícola, com a produção de azeite e vinhos, com a criação da Adega Maior, e ainda na distribuição alimentar e de bebidas, no retalho automóvel, no comércio imobiliário e na hotelaria, com negócios em vários pontos do mundo.
Reconhecido como um dos maiores empreendedores portugueses, grande impulsionador da economia da sua vila natal, Campo Maior, e do país, Rui Nabeiro era um empregador que lida com respeito com os seus cerca de 3800 trabalhadores, um benemérito envolvido em diversas causas solidárias e um homem preocupado com a sustentabilidade.
Consciente das necessidades existentes em seu redor, inaugurou em 2007 o Centro Educativo Alice Nabeiro (nome dado em homenagem à mulher, com quem se casou em 1957), para responder às necessidades extraescolares das crianças desfavorecidas de Campo Maior. Com o patrocínio da Delta, a Universidade de Évora criou, em 2009, a Cátedra Rui Nabeiro, destinada à promoção da investigação, do ensino e da divulgação científica na área da biodiversidade.
Paralelamente aos negócios, que lhe ocuparam praticamente toda a vida, Nabeiro teve ainda uma carreira na política, tendo sido presidente da Câmara Municipal de Campo Maior em 1962 e 1971, e, concorrendo pelo PS, foi ainda eleito para o cargo em 1977, sendo reeleito duas vezes e mantendo-se à frente dos destinos da vila até 1986, tornando-a um caso ímpar de desenvolvimento no Alentejo.
Com uma vida de trabalho árduo, que o impediu de seguir os estudos além da então quarta classe, recebeu distinções como o grau de comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial – Classe Industrial, atribuído em 1995 por Mário Soares, e o de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído em 2006 por Jorge Sampaio.
Na última edição dos Globos de Ouro, em outubro de 2022, foi agraciado como prémio de Mérito e Excelência na XXVI Gala dos Globos de Ouro
Rui Nabeiro era um marido, pai e avô dedicado. O velório decorre esta segunda-feira, dia 20, em Campo Maior, e o funeral no dia seguinte.