Chico Buarque recebe Prémio Camões.
Quatro anos depois de ter sido o eleito, Chico Buarque de Hollanda recebeu esta segunda-feira, dia 24 de abril, o Prémio Camões 2019, das mãos de Lula da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, respetivamente o presidente da república brasileiro e português.
No discurso, carregado de emoção nas palavras que, no início, lhe saíam embargadas, começou por evocar o pai, Sérgio de Hollanda, de quem herdou “o amor pela língua portuguesa.”
E prosseguiu, falando da sua história, que é no fundo, a da larga maioria dos brasileiros. “Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes os meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco”, disse.
De seguida, frisou que já não se vê a viver fora do seu país, mas que sente muito bem por ser tão acarinhado entre os portugueses.“Já morei fora do Brasil (…) mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal.”
Cravos e cheirinho a alecrim
O cantor e escritor fez também questão de mostrar a simplicidade com que encara a sua vida, em que as batalhas políticas andaram sempre a par com a arte.
“Por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prémios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim”, disse, numa referência a ‘Tanto Mar’, música que compôs a seguir ao 25 de Abril.
Durante o seu discurso, houve também tempo para o humor, quando contou que a mulher, Carol Proner, foi hoje mesmo comprar a gravata que usou.
Para além deste relato, que arrancou risos na plateia, afirmou ainda que já pensava que se tinham esquecido dele para a entrega do mais alto galardão da língua portuguesa.
“Lá se vão quatro anos que o meu prémio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se os prémios também são perecíveis”, brincou, para depois agradecer.
“Recebo este prémio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”.