A descontração com que leva a vida é a grande arma de Cleia Almeida. Bem-disposta, determinada e sempre com um sorriso, a atriz, de 40 anos, gosta de trabalhar as emoções, uma das razões que a levou a escolher a representação como profissão. Foi por isso com grande agrado que recebeu o convite para integrar o elenco da peça de teatro O Filho, encenada por João Lourenço. Um desafio que lhe tem imposto uma reflexão diária sobre a saúde mental, tema central da narrativa, e quão importante é o impacto que cria nas suas filhas, Mafalda, de oito anos, e Helena, de cinco, fruto do relacionamento já terminado com Gonçalo Maria Lebre.
Foi no ensaio de imprensa desta peça, que está em cena no Teatro Aberto, em Lisboa, que Cleia nos revelou também que encontrou novamente o amor.
“Talvez por influência dos meus pais, acho que devemos dar atenção uns aos outros, por isso sempre estive alerta para a saúde mental.”
– Como mãe, a saúde mental tem um papel importante na educação das suas filhas? Questiona-se muito em relação a isso?
Cleia Almeida – Vejo com atenção. É preciso fazer mais perguntas e querer sempre que os filhos sejam felizes. É uma grande pressão, tem sempre de correr tudo bem e nós temos de fazer tudo bem. Às vezes, o resultado pode ser exatamente o contrário. Com esta peça tenho-me questionado muito em relação ao papel de mãe, o que tenho estado a fazer melhor ou pior. Faço por dar o meu melhor…
– Faz questão de parar para pensar se o que está a fazer é suficiente?
– Acredito muito na psicologia e baseio-me muito naquilo que aprendo. Já fazia isso com várias questões e em várias alturas da minha vida procurei psicoterapeutas e psicólogos, e para fazer esta peça não foi diferente. Falámos com uma psiquiatra, ou seja, com quem sabe, e não podemos ter medo disso.
– Sente que está mais alerta para estas questões?
– Muito, mesmo. Sou uma pessoa de pessoas, e é essa a minha base de trabalho. Claro que tenho de ter os meus momentos sozinha, não prescindo deles, principalmente depois de ter sido mãe. E, talvez por influência dos meus pais, acho que devemos dar atenção uns aos outros, por isso sempre estive alerta para as questões da saúde mental. Quero acreditar que já ajudei algumas pessoas.
– Acha que é um tema que é cada vez menos estigmatizado?
– Espero que sim. Há alturas na vida em que estamos deprimidos e podemos fazer imensas coisas para melhorar, quimicamente, mas não só. A solução é pedir ajuda, se não forem os pais, que sejam os amigos, professores ou profissionais especializados.
– Além da peça, há mais desafios profissionais?
– Já estamos a preparar o novo filme do realizador João Canijo e estou a gravar uma série para a RTP, Erro 404.
“Tenho de aprender a usufruir mais do presente. Já percebi que é um defeito, a vida pode ser ainda melhor se não tiver coisas para cumprir no futuro.”
– No meio de tudo isto, tem tempo para as suas filhas?
– Sim. Os atores não trabalham assim tanto, a não ser que sejamos protagonistas! Estou quase todas as noites no teatro, mas temos muito tempo livre. Há fases de trabalho muito intensas, mas passa. Não estamos sempre a trabalhar, temos muito mais tempo para os filhos e namorados do que qualquer outra profissão.
– Por falar em namorados, já reencontrou o amor?
– Sou uma mulher de paixões, que gosta de estar acompanhada. Tenho um namorado muito querido, que vive em Paris, o que é ótimo. Tenho lá ido muitas vezes.
– Nunca consegue estar parada muito tempo…
– Nunca. E se atingi um objetivo, já tenho outro em mente. Tenho de aprender a usufruir mais do presente. Já percebi que é um defeito e não é que incomode alguém, mas a vida pode ser ainda melhor se trabalhar isso e não tiver coisas para cumprir no futuro. Está tudo ótimo e é aproveitar o agora, porque a vida muda com muita facilidade.