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Filha de um escultor e com formação em Design de Interiores pela Fundação Ricardo Espírito Santo, em Design pela Lisbon School of Design e com um mestrado em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Rueffa ainda trabalhou no setor da banca, mas depressa percebeu que o seu caminho teria de ser feito no mundo das artes. E é com as mãos na massa, que é como quem diz, na resina cristal, na fibra de vidro e na esferovite, os materiais-âncora do seu trabalho, que a artista neopop, de 38 anos, se sente verdadeiramente feliz e entusiasmada.
Isso mesmo nos confirmou na inauguração de Watch Your Self, a sua segunda exposição no espaço Cupra City Garage, onde revela uma série limitada e exclusiva das obras Selfie Dollar. “É uma ideia que desenvolvo há 13 anos e que vai tendo upgrades. Esta nova edição tem algumas particularidades. Não gosto de limitar a perceção que as pessoas têm das minhas obras, mas há coisas em comum em todas estas peças. Uma delas é o facto de poderem ser vistas tanto de frente como de trás, outra é que têm inscritas frases de músicas que ouvia no carro com o qual tive um acidente que me deixou entre a vida e a morte, há quatro anos. Portanto, são também uma espécie de homenagem a esse carro”, revela a artista, assumindo ser “fanática” pela indústria automóvel e por carros antigos. “As frases são motivacionais ou destrutivas, todas são um estado de espírito, porque é isso que nos acontece quando entramos num carro. Não há momento mais selfie do que quando fechamos a porta do carro. Podemos chorar, rir, ouvir música, cantar. Somos máquinas dentro do próprio carro.”
“Tendo que sobreviver, muitas vezes tenho de baixar valores de obras para poder alimentar outras.”
– Como é que uma artista se despede das suas obras de arte quando as vende?
Rueffa – Há muitas obras de arte que não consigo vender. Eu trabalho sozinha e tudo o que aqui está sai das minhas mãos. Sou eu que trabalho os materiais, faço as molduras, penso na curadoria, tudo. Portanto, a obra nasce comigo. E custa-me imenso abrir mão dela. Se não dependesse economicamente disso, não venderia nada. Mas, tendo que sobreviver, muitas vezes tenho de baixar valores de obras para poder alimentar outras. Porque só assim é que consigo criar algo mais. Pode parecer arrogância, mas faço sempre uma triagem a quem vai comprar o meu trabalho. Preciso de saber quem é, conhecer a pessoa. Não entrego um “filho” a qualquer um.
– E como é que lida com eventuais bloqueios criativos?
– Os únicos bloqueios que tenho são financeiros.
– Criatividade não lhe falta nunca?
– Não. Tenho tantos projetos que gostaria de mostrar ao mundo, mas, infelizmente, não tenho essa capacidade financeira. Então, faço o melhor que consigo dentro da minha disponibilidade financeira, procurando investidores quando se trata de projetos maiores.
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“Sou feliz quando vejo uma sala cheia de gente para ver o meu trabalho sem ter feito uma única aparição pública nos últimos anos.”
– Escolheu o caminho das artes há mais de dez anos. É aqui que se sente realmente feliz?
– Há várias nuances. Também posso ser uma artista muito frustrada, porque penso muito numa coisa e depois ela não acontece. O artista sonha muito. E eu, quando não durmo, estou a sonhar de olhos abertos. Sinto-me feliz quando vejo que tenho reconhecimento. Por exemplo, ia ser a primeira artista a representar Portugal no Museu Oscar Niemeyer e, por causa da Covid, isso não aconteceu. Vinha cheia de sonhos e de vontade, e não aconteceu. Fecharam-se várias garras na minha pessoa…
– Essa validação é importante para um artista?
– Claro que sim. Nós, infelizmente, só somos valorizados quando somos reconhecidos lá fora. Apesar de já ter feito algumas exposições em Nova Iorque, Paris, Brasília, só depois de nos validarem no estrangeiro é que somos reconhecidos em Portugal. E tenho pena que esta mentalidade não mude. Portanto, se me perguntam se sou feliz, sou quando, por exemplo, vejo esta sala encher-se de gente para ver o meu trabalho sem que eu tenha feito uma única aparição pública nos últimos três ou quatro anos.
– O seu pai também está ligado às artes. É importante a validação dele também?
– O meu pai é o meu Caravaggio, digamos assim. É um mestre da escultura. Cresci nesse ambiente e comecei a perceber que tinha muita coisa a dizer. Não sabia era como haveria de o fazer. Por isso não posso dizer que seja uma artista plástica pura, sou uma criadora de conteúdo visual. O meu objetivo é criar matéria para criar alguma propulsão nas pessoas. E, sim, preciso sempre de alguma validação do meu pai.