Em 1941, num congresso sobre Trás-os-Montes, Miguel Torga chamou-lhe um “Reino Maravilhoso”. Porque foi, sem dúvida, o escritor transmontano quem melhor encontrou as palavras para descrever a sua região natal, de natureza e clima rudes e agrestes e, no entanto, de terra e gentes com uma generosidade sem par, aqui ficam alguns excertos desse texto, o convite perfeito para uma visita ao distrito de Bragança, lá bem no extremo nordeste de Portugal: “Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso. (…) Não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. (…) Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. (…) Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia (…) Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. (…) E de quando em quando (…) um vale imenso, dum húmus puro, onde a vista descansa da agressão das penedias. Mas novamente o granito protesta. (…) Não se vê por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá. (…) A terra é a própria generosidade ao natural. Como num paraíso, basta estender a mão. (…) Bata-se a uma porta, rica ou pobre, e sempre a mesma voz confiada nos responde: Entre quem é! Sem ninguém perguntar mais nada, sem ninguém vir à janela espreitar (…) O que é preciso agora é merecer a magnificência da dádiva. Coisa mais bela nesta vida do que o puro dom de se olhar um estranho como se ele fosse um irmão bem-vindo (…).”
Bragança: “Reino maravilhoso”
Damos-lhe a conhecer esta cidade transmontana.
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