Carlos Gil e Carla Neto estão casados há 18 anos, e o sucesso a nível pessoal funde-se com o êxito profissional. Um ano antes da união, o estilista, por incentivo da então namorada, deixou de lecionar no ensino secundário e dedicou-se totalmente à indústria da moda. Uma profissão que o faz feliz e o preenche por completo. Mas deixemos a palavra aos protagonistas, que nos deram uma entrevista a propósito da apresentação da coleção Vinte e Quatro Horas na Semana da Moda de Milão.
Esta é uma parceria de sucesso no amor e no trabalho…
Carlos: Sim, eu trabalho na parte criativa, modelagem e confeção, e a Carla trata da parte logística, vendas e contabilidade.
Carla: Temos áreas diferentes, não têm nada a ver. [Risos.] Por isso acho que corre bem.
Dão-se sempre bem ou há muitas discussões?
Carlos: Não temos muito tempo para isso! [Risos.] Discutimos os assuntos no sentido da troca de ideias.
Como surgiu a ideia de lançar esta marca?
Antes de abrir o atelier, era professor do ensino secundário e professor de moda ao mesmo tempo. Foi quase uma imposição da Carla montar o atelier e a loja, porque ela tinha conhecimento das minhas capacidades. Depois, ela tomou as rédeas para explorar toda a minha criatividade.
Carla, deve ter um grande orgulho no seu marido...
Carla – Claro, um orgulho enorme, como é óbvio. Sempre lhe disse que ele tinha de ser um designer internacional. É muito bom ver os nossos produtos e a marca Carlos Gil no estrangeiro. A logística é completamente diferente, principalmente a exportação, que dá muito trabalho.
Há tempo para namorar?
Carlos – Nós namoramos a qualquer hora, em qualquer lugar. Todos os momentos podem ser vividos com intensidade e gosto. Como temos áreas distintas no trabalho, completamo-nos, sempre no sentido da felicidade.
Carla – Há sempre qualquer coisa boa a acontecer.
É esse o vosso segredo?
Carlos – Não sei se é segredo, mas sei que é uma vontade de sermos únicos, autênticos e verdadeiros. A minha grande luta na vida é ser feliz.
Carla – Quando somos felizes, somos bem resolvidos com a vida.
Carlos, em que é que se inspirou para esta coleção?
Gosto de estar sempre à frente no que toca à moda e àquilo que na realidade se vai usar. Precisamos de estudar muito as tendências, e eu estudo. Deve ser por isso que apareço nos principais cadernos de tendências a nível mundial ao lado da Fendi e da Prada. E isso é um alento muito grande, por isso vale a pena trabalhar. Esta coleção é destinada ao mercado que queremos atingir, Ásia e América, que é muito vasto e tem gostos muito próprios. Tenho de ter uma ideia muito concreta do que quero para que no desfile a imagem seja coerente. Não é fácil. A mulher que proponho vestir sai de casa de manhã para ir trabalhar e, no carro, tem algo diferente para poder ir a uma festa à noite. Portanto, é uma mulher do mundo, muito diversificada, que se veste para as 24 horas do seu dia.
Foi fácil fazê-la?
Não foi fácil encontrar o equilíbrio, mas consegui o meu objetivo. Queria ter um desfile que tivesse um apontamento Carlos Gil, que fosse muito coe-
rente a nível de imagem e, ao mesmo tempo, desportivo, elegante e sofisticado. É uma coleção com um aspeto muito moderno.
O reconhecimento internacional é importante?
Claro que sim. Em primeiro lugar, pelas pessoas que conheço, que vêm a Milão de propósito ver o desfile. E também pelas pessoas daqui, que me dizem para continuar.
Carla – Estamos gratos ao Portugal Fashion por nos fazer esta ponte. Estamos muito orgulhosos por termos conseguido cumprir os objetivos.
– São workaholics?
Temos 15 dias de férias e o resto das semanas a trabalhar sábados e domingos durante quase 24 horas.
Carlos – Provavelmente, o título da coleção deve-se ao facto de também trabalhar 24 horas por dia. [Risos.]
É muito dedicado ao seu trabalho?
– Dedico-me a 100%, de corpo e alma, a cada coleção. E isso é notório nos acabamentos das peças. É à dedicação que vamos buscar algum sucesso. É muito cansativo, mas vale a pena, pelo carinho de quem nos acompanha. O que mais quero é dignificar o meu nome e o de Portugal.
Tem necessidade de estar sempre a criar?
Tenho uma necessidade enorme de criar e de fazer coisas diferentes. O que queria fazer ontem já o quero fazer de outra forma amanhã. Por essa razão, todos os anos me proponho fazer cole-
ções com tecidos diferentes.
Fotos: Luís Coelho