Descendente de reis,
czares e imperadores, a filha mais velha dos reis Paulo e Frederica da
Grécia, Sofía, nascida em Atenas em novembro de 1938, foi educada para
se casar por conveniência. O príncipe Juan Carlos de Borbón, nascido dez
meses antes, em Roma, onde a família real espanhola vivia exilada, soube desde
cedo que o futuro lhe reservava igual sorte. A 14 de maio de 1962, Sofía e Juan
Carlos fizeram o que se esperava deles e trocaram alianças e votos de amor,
lealdade e fidelidade até à morte. Votos que ele nunca levou muito a sério. E a
poucos dias de completarem 50 anos de casados a situação esteve tão tremida que
a rainha Sofía de Espanha chegou a pronunciar a palavra divórcio num desabafo
que teve com o filho, o príncipe Felipe.
Segundo fontes próximas do Palácio da Zarzuela, a soberana só terá voltado
atrás com a decisão de pôr fim à farsa que ela e o marido representam há longos
anos depois de uma conversa a dois que durou quase quatro horas no quarto do
hospital madrileno de San José, onde o rei recuperava da intervenção cirúrgica
à anca a que foi submetido na madrugada de 14 de abril, na sequência de uma
queda durante uma caçada ao elefante no Botswana. Pormenor importante: nesse
safari milionário o rei tinha a seu lado a princesa Corinna zu
Sayn-Wittgenstein, que será sua amante há alguns anos. E isso depressa se
soube em Espanha.
Nascida na Suécia, Corinna, de 47 anos, foi casada com um empresário britânico
de quem tem uma filha, Nastassia, de 20 anos, e com o aristocrata alemão
Casimir zu Sayn-Wittgenstein, que lhe deu nova nacionalidade, o título
de princesa e um filho, Alexander, de dez anos. Há seis anos, esta
beldade loira, elegante, culta e inteligente foi apresentada ao rei espanhol. E
pouco depois mudou-se para Barcelona, passando a acompanhar Juan Carlos em
acontecimentos privados e até em situações oficiais, com o estatuto de ‘amiga
próxima’.
Quanto à rainha Sofía, que passava férias na Grécia com os irmãos quando o rei
foi operado, só regressou a Espanha três dias mais tarde, depois de refletir
bem sobre o assunto. E foi na primeira visita que fez ao convalescente, a 17 de
abril, que terá posto todos os ‘pontos nos ii’. Naturalmente, o momento não
teve testemunhas, mas tendo em conta que depois do ‘incidente’ Botswana a
imprensa espanhola quebrou o pacto de não-agressão que mantinha há muitos anos
com Juan Carlos e passou a fazer referências explícitas aos inúmeros casos
extraconjugais do monarca, tudo indica que a rainha terá imposto condições para
continuar casada. E que o rei, consciente do enorme safanão que toda esta
história deu à sua imagem – ao ponto de ter feito um pedido de desculpas aos
espanhóis –, não terá tido outro remédio senão aceitá-las.
Para Sofía, continuar casada significa continuar a ser rainha, com as
obrigações públicas que isso implica. Porque a nível privado há muito que se
sabe que os reis fazem vidas separadas. Sempre que pode, aliás, a soberana
refugia-se em Londres, onde tem um apartamento perto da casa do irmão e da
cunhada, os últimos reis da Grécia, Constantino e Ana Maria.
Uma das primeiras condições de Sofía foi não celebrar as bodas de ouro. A
rainha tem a noção do ridículo e, numa altura em que chegou a ver-se na capa da
revista de esquerda El Jueves num cartoon em que aparece, ao lado
do marido, enquadrada por uma cabeça de elefante e respetivas presas, não está
disposta a continuar a representação da mulher feliz. Nem os espanhóis lho
perdoariam, por muito que respeitem o facto de Sofía pôr sempre os seus deveres
de rainha à frente dos seus direitos de mulher.
E este é outro item que terá ficado bem esclarecido. Daqui para a frente, Sofía
será cada vez menos rainha e mais mulher. Quer isto dizer, cada vez mais mãe e
avó, a única faceta da sua vida pessoal que a realiza. A prova é que, enquanto
o rei era operado pela segunda vez, a 27 de abril, para retificar a posição da
prótese da anca, Sofía viajava para Washington, onde, no dia 30, comemorou o
10.º aniversário do neto Miguel, o terceiro filho da infanta Cristina
e de Iñaki Urdangarín. Apenas regressando a Espanha a tempo de presidir,
a 4 de maio, um ato oficial em que, pela primeira vez na vida, não se esforçou
por esconder o seu funesto estado de espírito.
Muitos espanhóis defendem que é precisamente por amor ao filho, cujo futuro
como rei não quer ver hipotecado, que Sofía não se divorcia. O fortíssimo lado
maternal da rainha sempre foi notório e nem sequer foi beliscado pelas várias
polémicas que têm envolvido os filhos e respetivos cônjuges (no caso de Elena,
o ex-cônjuge, Jaime de Marichalar, o irresponsável que deixou o seu
filho de 13 anos, Juan Froilán, brincar com uma arma e dar um tiro no
próprio pé).
E agora que o assunto Botswana/Corinna lhe pôs na mão muitos trunfos para
jogar contra o rei, a rainha vai certamente usá-los. Sobretudo para pressionar
Juan Carlos a ajudar Cristina a manter o seu casamento com Iñaki, o genro que
foi oficialmente afastado da família devido ao caso Palma Arena. Com Iñaki
disposto a devolver 1,7 milhões de euros e a dar-se como culpado no processo de
fraude e desvio de dinheiros públicos em que está acusado, a rainha tem esta
vitória quase como certa.
Revoltada com as traições do marido, rainha Sofía de Espanha chegou a falar em divórcio
A rainha Sofía sempre soube dos casos do marido, mas enquanto eles foram abafados conseguiu manter a pose. A partir do momento em que se tornou público que a princesa Corinna zu Sayn-Wittgenstein estava no Botswana com o rei, a soberana sentiu-se no direito de impor condições para continuar casada.