Aherdeira do trono de Inglaterra encontrava-se no Quénia, etapa de uma viagem que deveria levá-la ainda à Austrália e à Nova Zelândia, quando, a 6 de fevereiro de 1952, de manhã bem cedo, o marido lhe deu a má notícia: o seu pai, o rei Jorge VI, acabava de morrer, após vários anos de luta contra um cancro do pulmão. E foi assim que, num quarto construído sobre uma árvore gigantesca, no original Treetops Hotel, Isabel II se tornou rainha, há 60 anos. Regressando de imediato ao Reino Unido, a nova soberana foi recebida no Aeroporto de Heathrow com honras de Estado, o que significava a presença, entre outras altas individualidades, do primeiro-ministro, sir Winston Churchill.
O tempo é de luto, pelo que a rainha adia por um ano e quatro meses a cerimónia da coroação. Esse intervalo dá-lhe tempo para se preparar condignamente para a solenidade do dia. Porque se recusa a ouvir Churchill, que a aconselha a simplificar o cerimonial observado pelos seus antepassados, este inclui uma celebração religiosa de quatro horas na Abadia de Westminster durante a qual terá de suportar os 2,2kg da Coroa Imperial e o muito mais pesado manto de veludo carmim e arminho. Para se habituar a eles, Isabel passou vários meses a trabalhar no seu escritório de Buckingham com a coroa na cabeça e a fazer longas caminhadas pelos corredores do palácio com vários lençóis cosidos de forma a terem o mesmo peso e comprimento.
Curiosamente, se em tudo o que atrás foi dito Isabel II revelou o seu lado mais conservador, a sua coroação foi, também, a primeira demonstração de que a soberana (que hoje tem páginas no Facebook e no Twitter) estava atenta à mudança dos tempos e às evoluções tecnológicas. Contrariando, uma vez mais, a opinião de Churchill, decidiu permitir que a BBC fizesse a cobertura do evento, naquela que foi a primeira transmissão direta em mundovisão.
Na manhã do próprio dia, antes de o cortejo de coches reais percorrer as ruas entre Buckingham e Westminster, onde se aglomerava um milhão de curiosos, a jovem rainha assegura a uma das suas damas de companhia: “Já não me sinto ansiosa ou inquieta. É extraordinário, toda a minha timidez desapareceu” .
Junto ao altar de Westminster, perante o testemunho de mais de oito mil convidados, Isabel II profere o Juramento da Coroação, e, depois de ungida com os óleos sagrados – foi a última rainha europeia a receber tal bênção, indispensável pelo facto de o monarca inglês ser o líder supremo da Igreja Anglicana – é investida com o cetro, o globo e o anel real. Finalmente, o arcebispo de Cantuária, Geoffrey Fisher, impõe-lhe a coroa. Desde esse dia, a rainha tudo tem feito para estar à altura do seu “compromisso solene e religioso”, comportando-se em todos os momentos com uma dignidade que todos os ingleses, monárquicos ou não, lhe reconhecem. Cumprindo a vontade do seu avô, preocupado com o moral dos ingleses depois da I Guerra, de manter a família real próxima dos súbditos, Isabel II, que subiu ao trono pouco depois do outro conflito mundial, tem sido exemplar como “segunda” mãe, avó e agora até bisavó do seu povo. Além das 83 visitas de Estado que fez a países estrangeiros (e muitas mais aos países da Commonwealth, comunidade de antigas colónias britânicas a que preside), e que lhe valeram ser considerada a mais importante embaixadora do seu país, tem honrado com a sua presença milhares de cerimónias de inauguração, visitado outros tantos hospitais, escolas e prisões, e, sem interferir ativamente na política, tem-se revelado uma conciliadora nata, o grande pilar da unidade nacional britânica.
Isabel II: Sempre Soberana
Isabel II tinha apenas 26 anos quando assumiu o pesado fardo que carrega há seis décadas: a responsabilidade, a que nunca se esquivou, de ser a grande figura de referência dos ingleses. Uma espécie de mãe de todos os seus súbditos, o que lhe exige ter sempre uma palavra de consolo ou de incentivo, um sorriso nos lábios e uma aparência irrepreensível.