“Juan Carlos era um símbolo, até que se auto destruiu”, uma afirmação feita pelo jornalista espanhol David López Canales, no seu último livro, Herdarás o meu Reino – Da queda de Juan Carlos I à incerteza de Leonor: o relato necessário para compreender as crises da coroa. A biografia do rei emérito, reúne trabalhos de investigação feitos na última década, altura em que Juan Carlos abdicou do trono e se exilou em Abu Dhabi.
No livro são relembrados os factos indiscutíveis e tornados públicos ao longo dos anos, como o facto de Juan Carlos ter arrecadado 100 milhões de dólares de uma suposta comissão pela construção por parte de empresas espanholas, de uma estrada que ligaria Medina a Meca, na Arábia Saudita.
As infidelidades e os negócios com a ex-amante Corinna Larsen, ao longo de décadas, as pastas de dinheiro… Uma sucessão de escândalos e corrupção que levou, uma Espanha atordoada pela crise, à queda de um rei que décadas antes tinha denunciado nos seus discursos a corrupção do último governo de Felipe González. Do acidente de caça, que o levou a ser operado à anca, às investigações dos procuradores suíços e espanhóis, à cobrança de comissões e a todos os negócios duvidosos que surgiram desde então, o livro investiga os factos comprovados.
São ainda levantadas as prováveis e, sobretudo, as razões e consequências da desestabilização que o rei causou na instituição. E que, poderão ter impacto e fazer sombra no futuro reinado da princesa Leonor, a sua neta mais velha, filha de Felipe VI e Letizia de Espanha.
O livro apresenta ainda parte de conversas entre o rei emérito e Corinna, onde Juan Carlos assume a intenção de divorciar-se da rainha Sofia e casar-se com a empresária alemã. O autor deixa ainda uma reflexão, ao questionar de que forma as ações antigas e atuais de Juan Carlos, que vive um exílio dourado e ainda há poucos dias celebrou o seu ainversário sem a presença da família real, afetam uma instituição que o rei Felipe tem tentado, ao longo dos últimos anos, limpar a imagem que o seu pai deixou.
Até para garantir que, quando a princesa Leonor subir ao trono, a coroa espanhola esteja finalmente livre de uma influência que ninguém consegue antever ou até perceber de que forma será recordada nos livros de História.
“Este não é um livro de historiador. Nem um manual de ensino em que a vida dos protagonistas seja resumida em dois parágrafos. Como estes livros contarão a história de Juan Carlos no futuro? O que dirão dele?”, questiona o autor. Propondo duas opções, as mesmas que o livro aborda em cada acontecimento analisado: rei Juan Carlos, símbolo da democracia, ou o rei Juan Carlos, a pessoa que decidiu se autodestruir.