"Desejava que os ventos acalmassem e que o livro possa ser uma obra literária", frisou
José Saramago, na conferência de Imprensa que deu no auditório do grupo editorial Leya, em Alfragide, onde apresentou o seu mais recente romance, Caim, perante um vasto número de jornalistas portugueses e estrangeiros. A seu lado, como sempre nos últimos 22 anos, em todos os momentos importantes da sua vida – os bons e os maus -, o escritor tinha a mulher,
Pilar del Rio. E este foi, sem dúvida, um momento importante, simultaneamente bom e mau.
Bom, porque significa que, aos 86 anos, depois de ter estado gravemente doente em 2007, Saramago conseguiu terminar este romance, uma tarefa que chegou a pensar impossível. Mau, porque, como aconteceu com outras obras suas, esta tem gerado tanta ou mais polémica que aquela que o levou a abandonar Portugal, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, em 1991. De facto, ainda Caim não estava à venda e já a Igreja Católica o condenava energicamente, de uma forma que Saramago entende como "
insultos ao autor".Uma polémica que Pilar del Rio já esperava quando apresentou Caim na Feira do Livro de Frankfurt, no passado dia 14 de Outubro, lembrando que "
a grande literatura é sempre provocatória". Pilar, que conheceu primeiro a escrita de Saramago, em 86, e só depois de se apaixonar por esta veio a Lisboa de propósito para se encontrar com o autor (de que é há vários anos tradudora oficial para o castelhano), explicou no blogue de Saramago, num texto em que anunciou que este livro estava pronto: "
Não é um tratado de teologia, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Saramago põe à prova a sua capacidade narrativa (…), sem medos nem respeitos excessivos." E avisa que não deixará ninguém indiferente: "Provocará nos leitores desconcerto e talvez alguma angústia, porém, amigos, a grande literatura está aí para cravar-se em nós como um punhal na barriga, não para nos adormecer como se estivéssemos num opiário e o mundo fosse pura fantasia."