A atriz portuguesa esteve no passado mês de Maio no Festival de Cannes, onde assistiu a uma sessão privada do filme
Mistérios de Lisboa, de
Raul Ruiz, que protagoniza, e aproveitou para conhecer por dentro o maior festival de cinema do mundo.
Maria João Bastos e um grupo de estrelas nacionais partilham o elenco com alguns dos mais valiosos nomes da nova vaga francesa nesta adaptação da obra literária de
Camilo Castelo Branco, prevista para estrear em setembro. Neste momento, a atriz vive em Nova Iorque, enquanto pondera uma nova investida na carreira internacional. Uma mulher livre que em Cannes desfilou charme e elegância.
– Em
Mistérios de Lisboa interpreta uma mulher sofredora. Pode dizer-se que foi o maior desafio da sua carreira?
Maria João – Sim, foi o maior momento da minha carreira. É o papel mais importante da minha vida. É uma mulher marcada pelo infortúnio e que sabe que a felicidade não passa pelo seu destino. Uma personagem muito castradora. Nada que lhe possa acontecer poderá fazê-la feliz, nem o reencontro com o filho. O filme passa-se numa realidade completamente diferente, no início do século passado. A condição da mulher na sociedade permitia esse papel de sofredora.

– A Maria João não se identifica com esse ar funesto…
– Nada! A minha realidade é completamente diferente. Antes de mais, não sou nada fatalista e, perante as adversidades, acredito sempre que temos de passar sobre elas. Sou muito otimista e não me identifico com o sofrimento profundo que esta personagem vive constantemente, ainda que consiga percebê-lo.
– Mas já sofreu por amor…
– Todos nós já sofremos por variadíssimos motivos na vida. Já perdemos pessoas, passámos por situações menos boas… Nestes filmes de época, mais do que ir buscar aquilo que é do nosso sofrimento, temos de mergulhar num mundo que não é o nosso.
– Este filme vai conferir-lhe projeção internacional. Abre-se uma porta para a sua carreira internacional…
– Abre-se para todos nós que estamos envolvidos no filme. Só poderão vir coisas boas,
Mistérios de Lisboa é uma montra fantástica! É um orgulho mostrarmos que conseguimos fazer cinema com esta qualidade.
– Mas está pronta para uma vida de atriz internacional?
– Claro! Estarei onde estiverem boas oportunidades que me façam crescer como atriz, inclusive no cinema português.

– E tem aquele feitio de nómada, capaz de deixar tudo para trás e tentar nova vida?
– Tenho. Já fiz isso anteriormente e farei as vezes que forem precisas assim que achar que faz parte do meu crescimento enquanto atriz. Mas acredito na minha intuição. Não vou para o estrangeiro só por ir… Tenho que acreditar no desafio. E já há muitos anos que ando nómada. Não tenho parado, embora tenha a minha casa em Lisboa desde os meus 18 anos. Lisboa será sempre aquilo a que chamarei casa. É o meu poiso e sou feliz em Portugal, mas também sou feliz fora, em busca do mundo e de vida.
– Já perdeu algo com esse modo de vida nómada?
– Só ganhei. Ganhei mundo e a minha profissão é isso. Preciso de ter mundo, de conhecer pessoas e observá-las, de conhecer culturas, sentimentos…
– O que a deixou impressionada no ‘circo’ de Cannes?
– Cannes impressionou-me imenso, sobretudo no que toca à sua imponência e dimensão: a indústria de cinema apodera-se de cada rua, de cada grão de areia de praia daquela cidade. Respira-se arte cinematográfica. E conheci gente interessantíssima, com imensa disponibilidade. Quem lá vai quer conhecer outras pessoas.

– Qual a estrela que a deixou mais entusiasmada na azáfama de Cannes?
– Tive a sorte de ver um dos meus atores preferidos, o
Javier Bardem, que estava lá com a
Penélope Cruz e que mereceu ganhar o festival! Fiquei muito feliz. O discurso dele a agradecer à Penélope foi bonito. Mostrou-se surpreendente pela sua abertura e honestidade. Aquilo foi tão verdadeiro que até ela ficou surpreendida.
– Nunca seria capaz de fazer uma declaração de amor se ganhasse um prémio?
– Não sei… Ganhar um prémio deve ser uma coisa tão emocionante! É um reconhecimento do nosso trabalho e de muitos momentos de dedicação da nossa vida pessoal.
– E qual a impressão com que ficou acerca do glamour das festas em Cannes?
– O glamour existe mesmo em Cannes, não é
cliché. O festival é todo ele glamour, com uma superorganização. Em todas as festas as pessoas estão lá para se divertir e surgem lindas. Confesso que me diverti muito. Aproveitei muito bem a minha experiência: vi vários filmes, tive um contacto diferente com a indústria do cinema e percebi que as festas fazem realmente parte do programa do festival. E o que é engraçado depois é ver pessoas de saltos altos e longos vestidos de noite a tomar café na esplanada, ao lado das pessoas de chinelos em frente à praia. Senti uma energia incrível.

– Como fez para brilhar nas festas onde esteve?
– Ia preparada com roupa de estilistas portugueses. Quando tenho oportunidade, gosto de estar sempre com roupas dos nossos estilistas, são grandes criadores em qualquer parte do mundo. Posso dizer que os meus vestidos foram muito elogiados.
* Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico
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