Teresa Horta Colaço começou por exercer terapia da fala, mas nunca se sentiu completamente feliz. Aos 29 anos, e já depois de ter sido mãe de Sebastião, de 9 anos, e Maria do Mar, de 6, sentiu que precisava de mudar alguma coisa, de se desafiar. Ainda longe de saber que iria entrar no mundo da cozinha, começou, no entanto, devido a uma doença crónica, a estudar macrobiótica, uma área já explorada pelos seus tios Geninha Horta Varatojo e Francisco Varatojo, fundadores do Instituto Macrobiótico de Portugal, e que acabou por influenciar o seu percurso: “Não é todos os dias que podemos conviver de perto com alguém que admiramos tanto. A forma como viviam, como lidavam com as pessoas que procuravam ajuda em termos de saúde e que o meu tio conseguia curar fascinava-me. E a minha tia Geninha é um ídolo para mim.”
Em 2021/2022 entrou no programa de culinária da RTP1 MasterChef Portugal, do qual saiu vencedora – com um menu à base de plantas –, e que acabou por mudar a sua vida. Teresa, de 35 anos, teve depois a oportunidade de estar do outro lado, como jurada da 3.ª edição do MasterChef Júnior. Pelo meio lançou Sweet, um livro em que todas as receitas são livres de produtos animais, porque acredita genuinamente, sem extremismos, que se pode arranjar um equilíbrio na forma como consumimos produtos de origem animal.
– Trabalhava como terapeuta da fala. O que é que a levou a alterar o percurso?
Teresa Horta Colaço – Sentia que não estava no sítio certo e, embora fosse bem-sucedida, não me sentia feliz nem realizada.
– Foi uma doença crónica que a levou até à cozinha macrobiótica.
– Sim, tinha 23 anos quando tive uma candidíase crónica durante alguns anos. A macrobiótica fez um reset ao meu corpo e curou-me.
– Costuma-se dizer que somos o que comemos. Sentiu, por isso, uma relação entre a mudança de alimentação com o seu bem-estar a nível de saúde?
– Sem dúvida nenhuma. Não tenho dúvidas de que a alimentação é a primeira linha de atuação. Seja de prevenção, seja, em muitos casos, de tratamento. Eu acabei por assistir a muitos casos de pessoas com alguns problemas que conseguiram reverter as suas doenças com a alimentação. Mas é claro que a medicina é fundamental e eu não sou fundamentalista.
– E em relação à alimentação à base de plantas, é fundamentalista?
– Zero fundamentalista! Até porque a alimentação plant-based tem todos os alimentos presentes (até carne e peixe), mas as pessoas confundem-na com o veganismo. Uma alimentação à base de plantas privilegia vegetais e produtos não processados, o que não quer dizer que pontualmente não possa haver proteína animal. O tema aqui é a quantidade do que se come e a frequência.
– Há ainda alguma resistência a produtos vegan?
– Há alguma confusão ainda, mais do que outra coisa qualquer. As pessoas não entendem os conceitos das novas correntes emergentes sobre a alimentação e isso faz com que haja preconceito. Eu não preciso de ser vegan para comer um iogurte vegan ou beber uma bebida vegetal. Mas sinto que estamos num bom caminho.
– Comete algum “pecado”?
– Bem, não considero pecados, mas a doçaria conventual tem um lugar especial no meu coração.
– Que tipo de alimentação incutiu nos seus filhos?
– Fazemos uma alimentação à base de plantas, sem extremismos. Sou mais exigente com o tipo de coisas que entram na nossa casa, mas quando comemos fora e em festas há espaço para tudo.
– Como é que faz quando eles vão a festas de aniversário dos amigos, por exemplo?
– Estão livres e comem o que quiserem. Tento, acima de tudo, que comam com consciência do que estão a fazer. Prefiro que comam um bolo ou um croquete do que um copo de refrigerante, e eles sabem isso.
– Esta sua nova vertente levou-a ao MasterChef, concurso que venceu. Trouxe-lhe uma grande mudança na sua vida?
– Claro, o MasterChef mudou a minha vida no âmbito profissional. Em termos alimentares e da forma como faço essa gestão, mantemos tudo igual.
– Foi convidada para ser jurada do MasterChef Júnior. Como é que foi a experiência?
– Foi maravilhoso, um privilégio enorme e uma grande responsabilidade estar do outro lado.
– Com esta sua nova vida mais exposta, não sente necessidade de se isolar?
– Sou uma pessoa que gosta de estar mais no meu espaço sem grandes exposições. Quando tenho que gravar ou estar presente em eventos de trabalho, estou com gosto e faço o meu melhor para ser uma boa companhia, mas voltar a casa e para junto da minha família é sempre o meu sítio preferido.
– Como é que faz em relação aos seus filhos? Tem tempo para os acompanhar?
– Levo a educação deles muito a sério e tanto eu como o Guilherme [o comandante da Marinha com quem está casada há dez anos] nos preocupamos muito com os valores que transmitimos. É uma parte da minha vida onde mais ponho a minha energia e não delegamos em ninguém essa responsabilidade.
– Eles apreciam a sua exposição?
– Eles acham graça, mas isso não rege a vida deles de forma alguma.
– E o seu marido? Deu-lhe sempre apoio para mudar de vida?
– Temos apoio total um do outro nos projetos de vida individuais. Somos uma grande equipa e acho que só assim conseguiríamos chegar até aqui, com a vida que temos e com o tipo de trabalho que ele tem, em que se ausenta muito tempo.
– Qual é que gostaria que fosse o passo seguinte?
– Tenho um projeto muito bonito que irá arrancar assim que as obras da nossa casa estiverem prontas, em meados de outubro, mas não posso relevar tudo. Desde que acabei o MasterChef que me pedem um restaurante. Não irei abrir um restaurante, mas irei abrir as portas da cozinha de minha casa todas as sextas para grupos muito pequenos, com o objetivo de dar a conhecer às pessoas a minha cozinha e a minha forma de ver os alimentos.
Agradecemos a colaboração de
Vila Galé Cascais