Diogo Infante, de 45 anos, é um homem realizado com a vida que tem, pessoal e profissionalmente. Em abril, numa entrevista que deu ao jornal Expresso, o ator revelou que tinha adotado “há um ano e pouco” um menino, que se chama Filipe e tem nove anos. A par desta experiência “absolutamente reveladora”, como conta à CARAS, o ator regressa agora aos palcos com o espetáculo Preocupo-me, Logo Existo!, em cena no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Depois de ter sido afastado da direção artística do Teatro Nacional D. Maria II, no final do ano passado, o ator e encenador garante que “é agradável poder concentrar-me agora apenas na minha condição de ator” e assegura que não sente nenhum arrependimento em relação ao passado.
Dias antes da estreia deste monólogo, conversou com a CARAS sobre esta nova etapa.
– É incontornável perguntar como é que está a viver a experiência da paternidade depois de ter adotado um menino…
Diogo Infante – É algo absolutamente revelador. A forma como olhamos o mundo muda, as nossas prioridades alteram-se. Uma criança devolve-nos uma nova medida para a nossa própria existência e obriga-nos a repensar uma série de coisas, para depois podermos passar-lhe todos os ensinamentos que queremos. É evidente que estou feliz e a viver uma fase muito saudável da minha vida, o que também me ajuda a relativizar tudo o resto. Este nova disponibilidade que adquiri [após deixar a direção do D. Maria II, em novembro de 2011] veio na altura justa, porque estou a compensar todo o tempo que não tive para estar com ele e está a ser fantástico. Estou muito feliz e quero ser o melhor pai possível.
– Tem muitos sonhos para ele?
– Não. Tentarei fazer com ele aquilo que fizeram comigo, que é respeitá-lo. Tenho de o ajudar a moldar-se, mas percebendo quem é esta pessoa e o que quer da vida. Tentarei ajudá-lo ao máximo. Os sonhos serão os dele e eu estarei lá.
– Partindo do título deste espetáculo, Preocupo-me, Logo Existo!, agora que é pai tornou-se uma pessoa mais preocupada?
– As minhas inquietações não vêm de agora. Claro que o facto de ter um filho faz com que esteja com uma inquietação redobrada, porque tenho uma responsabilidade acrescida e não me posso preocupar só comigo. Mas isso não muda a minha maneira de estar no mundo. Pelo contrário, torna-me ainda mais convicto daquilo em que acredito. É fundamental sentir-me eu, porque ser coerente é o melhor exemplo que posso dar a alguém.
– Como está a correr a experiência de dar corpo a oito personagens diferentes neste monólogo?
– Está a ser uma aventura cansativa, mas muito divertida. É muito agradável poder concentrar-me agora apenas na minha condição de ator e ser mimado e cuidado por outras pessoas. É uma viagem divertida, mas em que se fala de assuntos sérios. É um pretexto para nos podermos rir de nós próprios, questionar alguns paradigmas das sociedades modernas e, quem sabe, podermos pensar um bocadinho naquilo que fazemos.
– Acredito que este reencontro com a sua ‘condição de ator’ pareça um recomeço…
– É sempre um recomeço. Por mais experiência que tenhamos, nunca perdemos as angústias e ansiedades, porque cada processo é novo e obriga-nos a recomeçar, a ensaiar, a errar e a fazer figuras tristes até ganharmos alguma confiança. É um processo que já percorri muitas vezes, mas do qual nunca me canso nem me habituo, porque é sempre novo.
– É fácil para si não se acomodar quando já é um ator consagrado?
– Nunca é fácil. É evidente que a experiência dá-nos instrumentos para lidar com algumas situações e poder resolvê-las. Quero sempre fazer coisas diferentes, ir mais à frente, surpreender-me. A necessidade de nos provocarmos é vital para mim. É isso que me mantém vivo enquanto artista. É a capacidade de nos deslumbrarmos, quer com a vida, quer com a arte, que nos mantém atentos e interessados. Enquanto ator e cidadão, não concebo não estar implicado do ponto de vista social e político. Estar adormecido e passar pela vida num estado de apatia não faz o meu género. Os tempos que vivemos são muito preocupantes. O que importa aqui saber é quanto nos preocupamos. Estamos suficientemente implicados para fazermos qualquer coisa ou vamos aguardar pacientemente que alguém resolva o problema por nós?
– Neste espetáculo, acaba por haver muito do Diogo cidadão…
– Absolutamente. Este espetáculo corresponde à minha vontade de falar de determinados assuntos enquanto pessoa. Não é só para entreter. Apetece-me abordar questões que são pertinentes e atuais. Este acaba por ser o meu pequeno contributo como pessoa implicada.
– Falando de outros projetos, vai agora coordenador o curso de formação de atores da ETIC. Está entusiasmado?
– Esta é a fase em que estou a desfrutar dessa ausência da responsabilidade, o que me permite estar só preocupado com a minha pequena existência enquanto ator. A coordenação do curso de formação de atores é um desafio que nunca tive e é algo que me apetece imenso fazer nesta altura. Acho que já atingi um patamar profissional que me permite partilhar com outros essa experiência. E quero fazê-lo de uma forma envolvente e estruturada.
– Esteve cinco anos como diretor artístico, primeiro do Teatro Maria Matos, depois do D. Maria II, de onde acabou por ser despedido. Gostava de voltar a repetir a experiência?
– Foram duas experiências fantásticas, que me permitiram aprender e crescer muito. Vivi intensamente cada momento, e não me arrependo de nada. Agora, estou noutra fase e sinto-me muito apaziguado com as decisões que tomei. Não gosto de alimentar rancores, porque isso consome-nos. É evidente que tenho mágoas, que sinto que fui maltratado, mas não olho para o passado. Acho que fiz um trabalho sério, digno, com qualidade e resultados muito expressivos. Portanto, não devo nada a ninguém e estou muito tranquilo. Agora vou gerindo esta nova etapa consoante a minha realidade.
Diogo Infante: “Estou muito feliz e quero ser o melhor pai possível”
De regresso aos palcos com o espetáculo ‘Preocupo-me, Logo Existo!’ e muito realizado com a paternidade, pois adotou um menino, o ator partilhou as emoções que pautam esta nova etapa da sua vida.
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