Aos 85 anos, Vicente da Câmara garante que está no seu “apogeu” profissional e é por isso que no próximo dia 1 de junho vai subir ao palco do Coliseu dos Recreios ao lado dos filhos José e Manuel e da neta Teresa para um concerto comemorativo dos seus 65 anos de carreira. Neste concerto, o fadista vai levar ao palco as suas duas paixões – o fado e a família – e já prometeu um final de espetáculo empolgante com a presença dos seus 18 netos.
Homem de família, Vicente da Câmara esteve casado durante 56 anos com Maria Augusta de Mello Novais e Atayde, que morreu em setembro de 2011, e com ela teve seis filhos. Pai presente, o fadista sempre foi um exemplo para os seus filhos. “Para mim, o meu pai é uma referência de homem e de honestidade. É uma boa pessoa. E aos 85 anos canta de uma forma admirável. E isso foi um prémio que Deus lhe deu,” revelou José da Câmara. “Cantar ao lado do meu pai é sempre uma emoção e uma responsabilidade. O meu pai é o meu modelo. O que ele me ensinou é o que ensino aos meus filhos”, confidenciou Manuel da Câmara.
A dias deste concerto comemorativo, Vicente da Câmara posou ao lado dos seus dois filhos fadistas e de três dos 18 netos, Vasco, de 12 anos, Domingas, de dez (filhos de José), e José Maria, de nove (filho de Manuel), e conversou com a CARAS sobre as emoções que ainda quer viver dentro e fora do palco.
– O que se sente quando se celebra 65 anos de carreira?
Vicente da Câmara – São 65 anos de carreira, mas antes dos 20 já cantava o meu fado. Quase que nasci a cantar. Faço um balanço positivo de todos estes anos. Estive muito tempo parado e só em 1982 é que comecei a dedicar-me mais ao fado.
– Considera que o apogeu da sua carreira foi nessa altura?
– Não, o apogeu da minha carreira é agora.
– Aos 85 anos?
– Sim. Nunca levei isto muito a sério, nunca tive um agente artístico que tratasse da minha carreira. Fui um freelancer do fado e tive sempre profissões paralelas. Tinha seis filhos para sustentar e não tinha muito tempo para cantorias. Agora sim, tenho tempo. Nunca tinha cantado em casas de fado e agora até já estou a cantar numa às sextas-feiras. É uma forma de também me obrigar a sair de casa. Vamos ver quanto tempo ainda me aguento. Eu gostava de chegar aos 120 anos e estou a fazer por isso. Deixei de fumar e perdi uns 30 quilos.
– E parece que vitalidade não lhe falta, porque está a preparar um grande concerto para o dia 1 de junho…
– Sim, sinto-me com genica para o que aí vem. Este concerto é de uma grande responsabilidade, mas tinha de assinalar os 65 anos de carreira. Espero que corra bem e que as pessoas gostem. Este espetáculo vai ser uma ‘concertoferência’, como gosto de lhe chamar. Vou falar um bocadinho do fado, da minha vida e vou intercalar isso com umas cantigas. E ainda quero festejar os 70 anos de carreira.
– Acredito que goste de ver que a sua paixão pelo fado teve continuidade, já que dois dos seus filhos são fadistas e a sua neta Teresa também…
– Sim, é uma continuação. E para além da Teresinha, tenho mais dois netos que também gostam disto.
– Sente uma maior responsabilidade quando partilha o palco com a sua família?
– Não sei… Damo-nos todos bem e estamos habituados a cantar juntos. Quando estamos todos no palco, eles continuam a ser os meus filhos, a única diferença é que ali não estamos a falar e sim a cantar. Confesso que não ensaiamos muito, mas ajudamo-nos uns aos outros.
– O que é que o facto de cantar o fado trouxe à sua vida?
– Cantar o fado traz o mesmo que a prática de qualquer outra forma de expressão artística. É algo que me realiza.
– Mas tem aquilo a que se chama alma de fadista?
– Isso não sei. Acho que isso da alma de fadista é um bocadinho de conversa. Canto o fado porque gosto de cantar. Não é nada de transcendente, nem quero transmitir nenhuma mensagem. Canto porque gosto!
– Tem seis filhos e 18 netos. A família sempre foi a sua grande prioridade?
– Sim, sempre fui um homem de família. Estive casado 56 anos, fui muito feliz. Para todos nós, a família sempre teve muita importância. E temos tido uma boa vida. Houve momentos melhores, outros piores, mas o balanço é positivo.
– Acredito que o facto de ter tantos netos o ajude a manter essa jovialidade…
– Claro que sim. Sempre gostei de me dar com os jovens. É bom conversarmos com eles. E tenho mesmo de me dar com as pessoas mais novas, porque da minha idade já há poucos!
Vicente da Câmara, aos 85 anos: “Sempre fui um homem de família”
O fadista posou para a CARAS ao lado dos filhos José e Manuel e dos netos Domingas, José Maria e Vasco.
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