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D.R.
“Não ser de sítio nenhum, é viver num vazio de identidade.
Sentirmo-nos de um sítio e não ser reconhecido como ‘da terra’ é como ser filho renegado.
Chegar aos quase 38 anos e sermos abraçados como de algum lugar, de um povo, sem reservas, é como renascer, é encontrarmo-nos com o que sempre quisemos ter: um chão a que chamar de nosso!
Hoje tenho chão. Definitivamente na minha vida, tenho chão!
Cresci como filha de retornados numa terra com gente fechada sobre si própria. Amigos?, fizemos muitos, fizemo-los, fizeram-nos e guardamo-nos assim até hoje. Mas tendo nascido uma segunda vez ali aos 11 meses, tendo dado os primeiros passos, dito as primeiras palavras com um sotaque que os meus pais nem entendiam, aprendido a ler, a escrever, a sentir, a contemplar o céu, o mar, as estrelas, a ouvir e a cuidar, ali onde o mar não acaba, onde tudo parece não ter fim, nem o tempo, sentia-me dali, tão dali. Só que era filha de retornados, e isso fazia de mim retornada. Eu, que não retornava de lado nenhum, nem os meus pais, aliás, nem a minha mãe… Eu, que só queria ser dali, porque só sabia ser dali…
Ontem fui finalmente e definitivamente dali.
Olhei directamente nos olhos de quem esteve lá, e senti o carinho, o orgulho de eu ser dali, ser de todos os que vi.
Hoje tenho de novo chão.
Volto hoje para Lisboa.
Hoje sou definitivamente Açoreana!
Obrigada!
12 Jan 2014″, escreveu Katia Guerreiro na sua página do Facebook, visivelmente feliz por ter atuado na terra que a viu crescer.