Rapariga “mais do que tímida”, Maria Barroso mostrou cedo a sua têmpera corajosa lutando contra essa característica para seguir aquela que sentia ser a sua missão de vida: representar. Quando concluiu o Curso de Teatro do Conservatório Nacional, em 1948, já se tinha consagrado no palco, onde se estreou em 45, pois o talento dramático, trágico, diria David Mourão-Ferreira, da jovem de aparência frágil, mas carácter forte, depressa foi reconhecido pela crítica.
O convite para integrar a mais conceituada companhia do país, a de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, e que residia no Teatro Nacional D. Maria II, surgiu logo em 45, mas o seu engajamento político – era acusada de declamar poemas subversivos – e os anticorpos que Mário Soares criava junto do regime de Salazar depressa puseram fim a uma promissora carreira. Demitida da companhia, só pontualmente voltaria a representar: o regresso aconteceu em 1966, pela mão de Paulo Rocha, no filme Mudar de Vida. Em 1974, Manoel de Oliveira hesitou em convidá-la (era então mulher do ministro dos Negócios Estrangeiros) para a versão cinematográfica de Benilde ou a Virgem Mãe. Aceitou, encantada por voltar a esta peça de José Régio que protagonizara no Nacional, em 47, ao lado de Rey Colaço. Oliveira dar-lhe-ia ainda papéis em Amor de Perdição (79) e Le Soulier de Satin (85).
A frustração dessa paixão abortada, foi-a superando a declamar poesia. Uma faceta em que se notabilizou graças à sua voz suave, mas convicta, e à sua dicção perfeita.
Especial Maria Barroso: Os anos de atriz
Apaixonada pela representação, transbordava talento. O fascismo depressa lhe abortou a carreira.