Por cá, estamos habituados à sua presença no pequeno ecrã desde, por exemplo, a telenovela Roque Santeiro, onde interpretou a viúva Porcina, e embora já tenham passado mais de 50 anos desde que deu os primeiros passos na representação, garante que continua a mesma pessoa que era, com medos e inseguranças. Seis meses depois da última visita ao nosso país, Regina Duarte, de 69 anos, vem a Portugal apresentar o seu mais recente trabalho, Bem-Vindo, Estranho, uma peça que estreia dia 31 de março no Teatro Tivoli e ficará em cena até 17 de abril, na qual a atriz contracena com Mariana Loureiro e Kiko Bertholini.
– Qual é a primeira coisa que gosta de fazer quando chega a Portugal?
Regina Duarte – Gosto de visitar as livrarias. Sou uma apaixonada por livros, sessões de livros para crianças, sessões de poesia e literatura.
– Não se perde com a gastronomia portuguesa?
– Claro! [risos] Gosto muito. Quero encontrar um restaurante para comer um bom bacalhau à Brás. Desta vez vou ter mais cuidado, as últimas vezes que cá estive ganhei peso [risos].
– E do Brasil fizeram-lhe alguma encomenda?
– Fazem sempre [risos]. Pedem-me que leve um bom vinho, bacalhau e pastéis de Belém.
– Estas visitas são sempre em trabalho ou também vem em férias?
– Quando planeio uma viagem pela Europa, é indispensável parar aqui. É a minha língua, a minha gente! Sinto-me em casa. Aqui todos me recebem de braços abertos e isso faz-me bem. É como se estivesse em família.
– Consegue passar despercebida?
– Se eu não sorrir e não falar, ninguém me reconhece [risos]. Às vezes fico impressionada. As pessoas passam de carro em alta velocidade e conseguem perceber que sou eu! É muito bom.
– Os fãs portugueses são diferentes dos brasileiros?
– Mais efusivos e calorosos! Acho que talvez porque a oportunidade de me ver é mais rara. São todos carinhosos. As senhoras abraçam-me com força, com abraços verdadeiros.
– Vai cá estar dois meses. Tem planos para os tempos livres?
– Quero ver outros espetáculos, perceber o que se está a fazer aqui no teatro. Gosto muito do teatro português, admiro esta criatividade. Vou aproveitar para ler, porque aqui vou ter mais tempo.
– Estando desde o início da carreira dedicada a múltiplos projetos, sempre conseguiu conciliar a vida profissional com a pessoal?
– A minha profissão é tão apaixonante que tenho dificuldade em impor limites [risos]. Mas estou a aprender a fazê-lo.
– E tem tempo para os seus seis netos? Que tipo de avó é?
– Sou uma avó que tem menos disponibilidade em termos de tempo, mas mais intensidade na relação.
– Como é que lida com o afastamento da sua família?
– Tem de haver um planeamento. São momentos difíceis, mas todos nós sabemos que se está a construir algo melhor. As relações fortalecem-se com estas ausências.
– Quando aceita um projeto, pondera a decisão tendo em conta o tempo familiar que pode roubar-lhe?
– Vou tentando desdobrar-me para fazer tudo! A paixão pelo que faço domina-me.
– Em 50 anos de carreira, o encanto pela representação nunca esmoreceu?
– Tive momentos de frustração, de não conseguir fazer as coisas como queria, de não fazer as personagens que queria, de não ter aproveitado melhor algumas oportunidades. É comum, mas fui aprendendo a lidar com isso e a passar por cima. Eu tenho dez projetos que gostaria de ver realizados e tenho oferecido aos produtores e diretores e nenhum tem sido aceite.
– Quer então apostar noutra área da representação?
– Estou a trabalhar nisso, para fazer uma proposta irrecusável para os produtores e quero ocupar-me muito mais com a direção de atores, de televisão, cinema e teatro.
– Vai apostar nos seus projetos em Portugal?
– Gostaria de propor uma oficina de atores se algum produtor estivesse interessado! Durante uma semana, em Lisboa, por exemplo. Adoraria fazer um trabalho desses.
– Com tanta experiência, ainda há inseguranças?
– Sempre! [risos] Cada trabalho é uma página em branco. As experiências anteriores servem em momentos cruciais mas se não queremos ser repetitivos, temos de recomeçar do zero.
– Quando trabalha com jovens atores, tenta esconder essas inseguranças?
– Depressa percebem que, como eles, tenho as minhas inseguranças, as minhas dificuldades e que juntos vamos descobrir os caminhos.
Regina Duarte: “É difícil impor limites a uma profissão tão apaixonante”
Seis meses depois da sua última visita a Portugal, a atriz, de 69 anos, está de regresso com a peça “Bem-Vindo, Estranho”, que esgotou salas de teatro no Brasil durante mais de um ano e meio.