
Paulo Miguel Martins
Nos últimos anos, Ana Stilwell aprendeu a aceitar as suas fragilidades enquanto mãe, mas também a reconhecer as suas forças neste papel. Sendo mãe de quatro filhos – Carminho e Madalena, de oito anos, Marta, de três, e Eduardo, de um –, ganhou um olhar diferente perante a vida e perante si própria com a chegada de cada um deles. O que só lhe trouxe mais certezas, apesar das muitas dúvidas inerentes ao papel de mãe. Uma dessas certezas passa pela importância que a música tem na sua vida. E Life Trip é prova disso. Este seu novo álbum representa, ele próprio, uma viagem, tanto no sentido figurativo como no literal. Na verdade, Ana prepara-se para dar início a uma digressão familiar pelo país a bordo de uma autocaravana, com os filhos e o marido, Eduardo Moser, para promover o seu trabalho nas principais cidades de Portugal. “Adoro aventuras e tenho a sorte de não complicar em termos logísticos. E depois a música faz tão parte de nós, do nosso dia a dia… Como preparei este disco em casa, toquei estas músicas milhares de vezes com os meus filhos ao lado, e faz sentido continuarmos em família”, contou à CARAS, com a voz doce e o olhar sonhador que a caracterizam. Uma viagem que irá partilhar regularmente no site da CARAS, a partir de 25 de janeiro.
– Esta Life Trip começou no momento em que foi mãe?
Ana Stilwell – Há uma verdadeira life trip, que aconteceu quando fui mãe, mas esta surgiu já depois da maternidade, numa mudança na forma de ser mãe. Primeiro tentei ser mãe by the book, dentro do que é suposto, e depois tentei descobrir a minha própria maneira de ser mãe. E há aqui um paralelismo com o meu caminho na música, por isso é que tudo anda de mão dada. Também aqui tentei fazer tudo bem e perfeitinho, mas percebi que tenho de ser mais autêntica, sem medo de errar. E essa é a parte mais difícil. Estas coisas estão todas interligadas, porque a maternidade é uma sova enorme no medo de errar… E a maternidade foi uma das grandes inspirações para mudar interiormente este meu perfeccionismo. Cada gravidez deu-me força para ser mais assertiva, para dizer mais o que queria.
– Foram os seus filhos que lhe mostraram o caminho para essa força interior?
– Sempre refleti muito, os meus mil diários de adolescência comprovam isso, mas não há dúvida de que ser mãe é um abanão gigante em termos de identidade. Eles, por um lado, dão-nos uma nova identidade, a de mãe. Por outro, tiram-nos qualquer identidade mais pessoal. Sempre que tenho um filho, sinto que há um ciclo pelo qual tenho de passar: sou completamente mãe até que, de repente, sinto outra vez falta de mim própria e tenho de me descobrir novamente. E nessas alturas é bom pensar em quem sou, no que me faz falta… Porque sou mãe, esta é uma parte essencial de mim, mas ao mesmo tempo há mais coisas e outras partes que é importante nutrir e respeitar, portanto, depois de cada um deles, tive essa oportunidade. E destas últimas vezes percebi que andava a perder tempo a fazer coisas que não eram exatamente o que queria fazer. E o grande objetivo deste último disco era precisamente perceber o que queria e fazer as coisas nesse sentido. O que não é fácil para mim, porque valorizo muito a opinião dos outros.