
Paulo Miguel Martins
Sempre que sobe ao palco, Yolanda Soares, de 47 anos, sente que é mais do que uma cantora. O cenário, a roupa, os músicos e as histórias que canta, numa mistura entre o fado e o canto lírico, fazem-na sentir-se dentro de um filme, no qual não falta emoção e um desfecho feliz, os aplausos. Contudo, nunca pensou que seria a protagonista de um verdadeiro filme de terror: entre 2010 e 2015, a crossover singer foi perseguida por dois homens que julgava serem seus admiradores. Entrou em depressão, perdeu a voz e só quando o problema foi ultrapassado é que recuperou a voz, a carreira, a vida e a felicidade. Em todos estes momentos de angústia a cantora teve sempre o apoio do companheiro, o empresário Carlos Vicente, com quem está há 18 anos.
Agora que o pesadelo terminou, a artista decidiu contar à CARAS como superou esta fase tão negra e conseguiu voltar a viver sem medo. Nesta conversa, expôs as suas fragilidades, revelou a sua coragem e mostrou a mulher que sempre procurou ser diferente de todas as outras.
– Este cenário poético e muito cinematográfico das ruínas do Sanatório Albergaria Grandella, em Loures, tem muito a ver com a forma como encara a música e como se apresenta em palco…
Yolanda Soares – É verdade. Tem sido sempre assim. Desde pequena que sou muito criativa. Também sou muito poética. Tenho uma empresa, a By the Music Produções, onde sou diretora artística, e lá crio espetáculos para mim e para outros. Gosto de puxar pela cabeça, de criar conceitos. Os meus discos são todos conceptuais, há todo um contexto que vai além das músicas.
– Define-se como uma crossover singer. No cruzamento entre o fado e o canto lírico há algum que predomine neste momento?
– Já fui muito mais fadista, agora sou mais lírica. E isso teve a ver com uma fase muito complicada pela qual passei e que poucos sabem. Durante cinco anos, de 2010 a 2015, fui perseguida por um stalker. Fui ameaçada, caluniada, sofri uma tentativa de extorsão e senti-me arrasada ao ponto de ficar com uma depressão e sem voz. Pensava que a minha carreira tinha acabado, não me sentia capaz de cantar. Sentia-me num filme. Não falei de nada na altura porque estava cheia de medo.
– E o que queria essa pessoa que, como diz, a ameaçou?
– Primeiro era só um homem, depois passaram a ser dois. Pareciam ser meus fãs. Um deles aproximou-se, parecia ser uma excelente pessoa, pus letras dele no meu CD Metamorphosis, e a partir daí começaram a fazer chantagem e a querer dinheiro. Queriam ser os meus agentes internacionais, inventaram uma tournée que nunca existiu, enviaram e-mails para a comunicação social a prejudicarem-me. Diziam que eu não podia cantar as letras que um deles escreveu, mas claro que podia, porque estava tudo registado na Sociedade Portuguesa de Autores. Escreviam sobre mim na Internet, e por causa dessas difamações um agente da Holanda deixou de me representar. Depois apagaram vários comentários. Fiz queixas-crime, mas, como viviam fora da União Europeia, não consegui apanhá-los. Gastei muito dinheiro com advogados… Até que acabaram por desistir. Parecia que estava a cair num poço sem fim.
Leia a entrevista na íntegra na edição 1228 da CARAS