Esta sexta-feira, dia 28, a princesa Leonor voltou a presidir aos Prémios Princesa das Astúrias, discursando pelo quarto ano consecutivo. Ao lado dos pais, os reis Felipe VI e Letizia, e da irmã, a infanta Sofía, a herdeira da Coroa espanhola reconheceu o trabalho e o percurso dos galardoados nas oito categorias destes prémios, Carmen Linares e María Pagés (Artes), Eduardo Matos Moctezuma (Ciências Sociais), Adam Michnik (Comunicação e Humanidades), Shigeru Ban (Concórdia), Ellen Macarthur (Cooperação Internacional), Fundação e Equipa Olímpica de Refugiados (Desporto), Geoffrey Hinton, Yann Lecun, Yoshua Bengio e Demis Hassabis (Investigação Científica e Técnica) e Juan Myorga (Letras).
Veja abaixo o discurso na íntegra.
“Estou muito feliz por regressar novamente às Astúrias para apresentar estes Prémios, que mostram que o excelente trabalho, o esforço constante e o sentido de responsabilidade têm grandes resultados.
Daqui a alguns dias farei 17 anos. E garanto que descobrir o trabalho dos nossos vencedores me ajuda a entender melhor o mundo ao nosso redor. O trabalho deles impulsiona-me, a todos na verdade, a continuar a aprender. Li sobre cada um dos premiados e estou impressionada com o que eles conseguiram. Importo-me e me interesso-me, porque sei que o seu trabalho e os seus esforços, projetam o futuro e influenciam o presente.
Importa-me que duas artistas excecionais nos lembrem que o flamenco é uma arte viva, rica, poderosa, universal, nossa. Uma arte culta em que María Pagés e Carmen Linares alcançam a harmonia de quem evolui e ao mesmo tempo mantém a essência da tradição.
É importante para mim que Adam Michnik não tenha medo de fazer um jornalismo responsável e rigoroso; que este jornalista e historiador, grande defensor da Democracia, trabalhe pela reconciliação entre os seus concidadãos e um europeísmo mais otimista, e que apesar da sua dura experiência pessoal, demonstre o seu espírito exemplar.
Importa-me que o antropólogo e arqueólogo Eduardo Matos Moctezuma tenha dedicado a sua vida a reconstruir e documentar, com grande rigor científico, como era a vida dos habitantes do México pré-hispânico. Ele revela-nos o passado para entender o que somos e o que as sociedades antigas e atuais têm em comum.
Importa-me que o dramaturgo e académico Juan Mayorga pense que o teatro é a arte do encontro, portanto, da relação ator-espectador, e que nos ajude a examinar vidas reais e vidas possíveis. E também que este prémio sirva para que a arte, a cultura, a especial perspetiva – filosófica e matemática – de Mayorga sejam valorizadas como merecem e nos ajudem a questionarmo-nos.
Importa-me que os nossos vencedores em Ciência investiguem a Inteligência Artificial, porque são as tecnologias que já estão connosco e que continuarão a permitir-nos progredir nesta área; para que as máquinas sejam aliadas da Humanidade e nos facilitem a vida. Hinton, Hassabis, Bengio e LeCun mostraram que o impacto social da Inteligência Artificial precisa de recursos e atenção.
Também me importa e preocupa-me muito que um atleta não possa treinar e progredir na sua carreira, porque foi forçado a fugir do seu país. É por isso que é uma grande iniciativa que, há alguns anos, atletas nessa situação tenham a oportunidade de continuar a sua atividade para competir nos Jogos Olímpicos, graças à Equipa Olímpica de Refugiados e à sua Fundação.
E importo-me que o arquiteto Shigeru Ban se preocupe com as pessoas que perderam as suas casas por causa de uma guerra, um furacão, um terramoto, e que lhes ofereça soluções para viverem sem terem de abrir mão do direito à privacidade e à dignidade. É também referência em materiais sustentáveis.
E também me importo que Ellen MacArthur tenha conseguido fazer com que governos, instituições científicas, grandes empresas e a sociedade trabalhem juntos para fazer melhor uso dos recursos naturais; propor soluções para evitar a perda da biodiversidade; e para nos explicar como funciona e quais são as vantagens da economia circular.
Em última análise, importa-me que estejamos todos aqui a comemorar e a aprender, e que reconheçamos os nossos vencedores com o melhor espírito que estes tempos precisam. É por isso que agradeço a todos vocês que, de mil maneiras, apoiam a Fundação Princesa das Astúrias, pelo vosso esforço e dedicação.
Nós, jovens, temos consciência de que a situação atual não é fácil, que o mundo mudou e continua a mudar, e que a melhor forma de progredir é mantendo o entusiasmo em aprender, dotar-nos de responsabilidade e capacidade de esforço, de aprender daqueles que sabem, aqueles que fazem as suas coisas com perfeição, muitas vezes em silêncio. Por isso, em dias como hoje, ouvir, admirar e reconhecer a excelência dos nossos vencedores faz-nos sentir que as coisas sempre podem mudar para melhor”.