Foram fortes e desgastantes as emoções que
Joana Solnado viveu no último ano com a morte do avô,
Raul Solnado. Talvez por isso, a actriz, que mantém uma relação com
André Cerqueira, director de uma produtora audiovisual, tenha decidido viajar sozinha para Nova Iorque, onde passou algumas semanas de férias e aproveitou para se reencontrar consigo própria. Já regressada, Joana falou-nos sobre o orgulho que tem no avô, e revelou alguns dos seus sonhos. Entre os mais imediatos está a vontade de ser mãe.
– Como correu esta visita a Nova Iorque?
Joana Solnado – Adorei Nova Iorque. A movimentação da cidade, a energia, a variedade… Existe de tudo lá, a qualquer altura.
– E sentiu vontade de ficar a viver lá?
– Nem por isso. Fui mesmo em lazer, nem vi muitas peças de teatro. ‘Varri’ quase todos os museus, exposições, passei muito tempo na rua, falei com pessoas, tentei perceber a cultura e tentei encontrar um americano, o que não foi fácil… [risos] Foram duas semanas muito rápidas, muito intensas, mas regressei a casa no momento certo. A confusão da cidade deixa-me muito ansiosa.
– Viajou sozinha…
– Sim. Fui ter com amigos e fui ao aniversário de um familiar. Houve momentos em que passeei sozinha pela cidade, mas porque queria viver aquele momento assim.
– Sente, por vezes, essa necessidade de se isolar?
– Normalmente gosto de viajar sozinha. A companhia e a partilha são incríveis, mas, por outro lado, quando estamos sozinhos não estamos condicionados pelos timings de outras pessoas.
– Nova Iorque pode ser uma cidade bem romântica. Nunca equacionou fazer esta viagem com o seu namorado?
– Desta vez não podia ser, por variadíssimos motivos. Mas de qualquer forma, é uma cidade para a qual apetece levar uma companhia mais próxima, sem dúvida.
– Entretanto, regressou a Portugal, mas as férias continuam…
– Vou entrar numa nova fase. Já não são férias, estou a reciclar-me. Não vou começar a trabalhar já porque quero estudar mais, rever algumas coisas, ler muito, e ainda quero viajar mais um bocadinho.

– Consegue abstrair-se do trabalho, tendo em conta que mantém uma relação com uma pessoa do meio?
– Falamos muito pouco de trabalho. Chego a casa e tento ao máximo desligar o botão. Tanto que tenho um espaço em minha casa, o escritório, que não é bem um escritório, é uma sala ampla para eu poder trabalhar, dançar, fazer o que quiser… É ali que trabalho.
– E ajudam-se no que toca a trabalho, pedem conselhos um ao outro?
– Não gosto muito de falar do que acontece dentro da porta de minha casa, mas são muito raras as vezes em que comunicamos em relação ao trabalho. Muito raras mesmo. E quando acontece, é porque é mesmo necessário. Não é fácil, mas tem que ser assim. E não viver em Lisboa ajuda-me muito a sair daquele ambiente, quase sinto que estou a vir de férias quando chego a casa.
– O ano passado foi de emoções fortes?
– O ano passado foi um daqueles muito marcantes mesmo e por variadíssimos motivos, profissionais e pessoais. Fiz uma coisa que nunca tinha feito: uma novela e uma peça ao mesmo tempo, entrando nas duas com grande incidência. É uma experiência que não vou repetir. Ensinou-me imenso, mas foi muito desgastante, foram três meses de grande angústia, seguidos de um choque emocional muito forte e que trago comigo sempre, até pelas pessoas que me abordam. E ainda bem que me acompanha, mas é uma emoção para a qual não tenho verbo, adjectivo, palavra para descrever.
– Como é que superou esse momento, a morte do seu avô?
– É a vida, não é? Como o nascimento, a morte também faz parte da vida.
– O mais difícil foi encarar as pessoas que todos os dias a abordavam?
– Não sei explicar como foi o processo, porque ainda estou um pouco dentro dele. Se calhar daqui a uns anos vou conseguir olhar para trás, mas agora ainda não consigo. Ainda está ao meu lado, tão próximo…
– Sente muito a ausência…
– Sem dúvida, sinto muito, mesmo. Fico, por vezes, com a sensação de que não aconteceu nada, mas depois percebo que aconteceu mesmo. É uma montanha-russa de emoções.

– Não é fácil…
– É disso que se faz o luto, lidar todos os dias com esta linha muito ténue entre a vida e a morte. Se bem que deveríamos viver a vida toda assim, como um momento em que temos de estar sempre atentos.
– Entretanto, surgiu a notícia de que serão leiloados alguns bens do seu avô para a construção de um museu e desenvolvimento de uma escola…
– Não sei muito acerca disso. Esse assunto está com os meus tios, não interferi nesse processo e sei muito pouco. Está na mão de quem devia estar, são as pessoas certas para fazerem o que entenderem, são os filhos dele. A escola já existe há alguns anos e o meu avô deu aulas lá várias vezes e era uma felicidade muito grande para ele fazer isso. Sentia uma felicidade enorme ao olhar para aqueles miúdos e ver o efeito que as suas palavras produziam. A continuidade dessa escola seria algo que ele, seguramente, adoraria que acontecesse.
– Recorda aquilo que o seu avô lhe deixou?
– Sem dúvida, mas não consigo verbalizar nada sobre o meu avô. Parece que tudo ficará aquém daquilo que ele foi, é e será sempre. Não existe ainda uma palavra que me ajude a expressar o que sinto. É uma emoção grande…
– Sente-se muito influenciada por ele?
– É um privilégio enorme ter Solnado no nome, e sinto que faço mesmo parte dessa família. Tal como é um privilégio ter Madeira no nome, e fazer parte da família do lado do meu pai, que é gigante e está no Brasil, na Alemanha, em todo o lado. Não podia ter nascido noutra família, de todo. A influência que a minha mãe, o meu pai e o meu avô tiveram na minha vida foi brutal. Todos me educaram, os meus avós, os meus pais, os meus tios, a nossa família é muito coesa, e isso é um privilégio do outro mundo. O meu avô teve uma influência gigante em mim, como homem culto e muito interessante que era. Ele dizia-me que eu tinha que aprender pelo menos uma coisa interessante por dia. Chegava ao fim do ano e estava satisfeito. Se fosse mais, melhor.
– Sente responsabilidade por ter esse apelido?
– Sinto um grande orgulho. Responsabilidade não muita, talvez por não perder muito tempo a pensar no que as pessoas pensam, mas mais naquilo que eu penso. Fui habituada desde muito nova a ouvir comentários acerca de tudo. Por isso, desde muito nova percebi que as pessoas têm sempre algo a dizer, mas é uma escolha de cada um. Pretendo ser eu própria e a partir daí está tudo certo.
– Existe algum momento passado com o seu avô que recorde com maior carinho?
– Muitos. É uma vida… Sempre fomos muito próximos. A minha relação com os meus avós, todos eles, sempre foi muito intensa.

– Tem valores familiares muito fortes.
– Tenho. Faço questão disso. Aliás, acho que constituir família vai ser dos grandes momentos da minha vida. Dou imensa importância à família, à educação…
– Vejo que começa a pensar mais nisso, em ter filhos…
– Tenho vontade de ser mãe há uns anos. Tenho adiado um pouco as coisas, até porque não queria ser mãe muito nova. Acho que a partir dos 25 anos é deixar de controlar e a vida que decida.
– Sente que já reuniu os elementos certos para que isso aconteça?
– Já. Tenho as circunstâncias ideais, dizem que isso não existe, mas existe. Por isso, o que vier, virá, e será muito desejado. Ser mãe vai ser das coisas mais importantes da minha vida, que me vai realizar mais do que qualquer peça, qualquer papel, qualquer coisa que eu faça a nível profissional.
– Sente-se preparada?
– Acho que nunca vou estar. Acabei agora de ser filha, e ainda nem sei bem sê-lo, quanto mais… Nunca acreditei que o relógio biológico existisse, mas agora acredito. Acredito que o corpo da mulher, independentemente do que a cabeça pense, chega a uma certa altura em que começa a dizer que está na hora. E é muito bonito ouvir a Natureza e senti-la em nós.
– Planeia muito a sua vida?
– Sonho muito e muito alto para, se chegar a metade, já ficar feliz, mas planos não faço muitos. Tenho coisas que quero fazer, mas tento deixar perceber se a vida acompanha.
– Algum grande sonho por cumprir?
– Sim. Tenho uma pancada muito grande pelo Tim Burton. Gostava imenso de um dia participar num filme dele, nem que seja a fazer adereços. Adorava. É um grande sonho.
– E a nível pessoal?
– Filhos, filhos, filhos… [risos]
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